Opinião

Vale tudo?

17 jan 2020 00:21

Que fique bem claro que, como tu bem sabes, Zé, eu não sou anti Sporting nem “concorrente” do Sporting, pois sou do Belenenses (e aqui é mesmo desde “pequenino”) que milita na II Divisão Distrital de Lisboa.

Meu Caro Zé,

Quando pensava no que te ia escrever, tinha em mente ilustrar a potencial manipulação interpretativa dos dados estatísticos apresentados pelo Doutor Centeno a propósito do Orçamento quando ligou a evolução dos investimentos no Serviço Nacional de Saúde à evolução dos juros da dívida pública.

A palavra “potencial” deriva do facto de eu ter ouvido em direto na rádio e, depois, não ter conseguido voltar a ouvir ou a ler algures o que tinha sido dito e, não podendo confirmar, só posso deixar no ar a “hipótese” dessa potencial manipulação.

Mas, nota bem, não estou a falar de manipulação dos dados, que são, por certo, exatos, mas da sua interpretação.

Estava a falar com a minha mulher sobre isto e, preocupado com a perda de assunto para esta conversa, quando ela me sugeriu que falasse sobre o que se passou a propósito do jogo Vitória de Setúbal – Sporting, pelo significado que a sua realização teve, atentas as várias decisões e posições assumidas.

Encarei essa perspetiva quando soube da infeliz e inesperada morte do piloto português Paulo Gonçalves e percebi, de imediato, que o teor da nossa conversa estava finalmente encontrado. E qual é?

A meia-verdade, ou mesmo a falta de verdade ligada ao objetivo de triunfar, triunfo efémero, sempre, porque de curto prazo, quer seja na política quer seja no futebol ou na vida profissional.

Só que a invocação (e o enorme respeito que me merece) de Paulo Gonçalves vem, exatamente, como contraponto aos outros assuntos que brevemente referi. Sendo um piloto de topo, em certa ocasião, vendo um colega caído, abdicou do “tempo” que faria nessa etapa, com sérias consequências na sua classificação final.

Confrontemos este comportamento com o do Sporting Club de Portugal e da sua Direção e, em particular, do seu presidente, ainda por cima, médico.

Que fique bem claro que, como tu bem sabes, Zé, eu não sou anti Sporting nem “concorrente” do Sporting, pois sou do Belenenses (e aqui é mesmo desde “pequenino”) que milita na II Divisão Distrital de Lisboa.

O exemplo dado do “vale tudo” para ganhar, com total desrespeito pelos adversários que são também colegas de profissão e, aqui, em duplo sentido – jogadores e médicos – revela uma total falta de respeito pela verdade (neste caso a tão decantada “verdade desportiva”) atingindo a sua dignidade e lançando “sementes” de violência que o próprio presidente do Sporting tão duramente criticou noutros (“escumalha” lhes chamou).

Henry Ford disse, mais ou menos, isto: “Pensar é difícil e dá trabalho; é por isso que a maioria não pensa!”.

E é isso que permite a continuação destes tristes episódios de seguidismo para ser o primeiro, para vencer, para derrotar os outros. Depois queixam-se do “populismo”!

Até sempre,

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990