Opinião
Natal e Equidade
O lucro é, por certo, uma restrição, mas, numa sociedade que se quer equitativa, nunca pode ser o objetivo
Meu Caro Zé
O Natal aí está e é fundamental que a grande cortina de nuvens escuras em que o ódio, a inimizade, a falta de sentido do outro, quer individualmente, quer intergrupos, quer internacionalmente, tenha de ser rompida com o nível de Esperança que o Natal tem de ser sempre.
Neste contexto, permito-me salientar, na senda das preocupações permanentemente manifestadas pelo Papa Francisco, algumas palavras da Exortação Apostólica que o Papa Leão XIV, “Dilexi Te”, retomou a partir do que o Papa Francisco já começara a escrever.
“Para além dos dados – que, às vezes, são interpretados de modo a convencer que a situação dos pobres não é tão grave – a realidade geral é bastante clara: Há regras económicas que têm sido eficazes para o crescimento, mas não para o desenvolvimento humano integral. A riqueza aumentou, mas sem equidade (o sublinhado é meu), e assim surgem novas pobrezas, isso se afirma medindo-a com critérios de outras épocas, não comparáveis com a realidade atual.”
Nos anos 70, num artigo relevante, Alice Rivlin evidenciava que um americano se considerava pobre quando o seu rendimento era inferior a metade do da sua vizinhança. E o que é a sua vizinhança hoje?
No mesmo sentido, em Jerusalém, em 1983, por alturas do acordo entre judeus e palestinianos, Shimon Peres afirmavam que as únicas fronteiras seguras são aquelas em que os vizinhos se dão bem e, para isso, não podem ter diferenças do nível de vida muito diferentes e há que trabalhar nesse sentido. Um bom tema para avaliar os termos em que a “segurança” está a ser discutida hoje.
Isto significa que a palavra chave é equidade, que é baseada na igualdade de oportunidades e justiça igual para todos. E isso impõe que se abandone a sociedade da “maximização do lucro” pois este é feito à custa da diminuição dos custos, incluindo o do trabalho incorporado! O lucro é, por certo, uma restrição, mas, numa sociedade que se quer equitativa, nunca pode ser o objetivo.
Aliás, tenha dúvidas que as regras económicas tenham sido eficazes para o crescimento, porque o indicador desse crescimento é o PIB que, tendo a vantagem sobre o indicador “lucro”, de colocar o salário e o lucro no mesmo plano, ignora, radicalmente, os custos que são impostos e não contados à Natureza e ao desgaste dos ativos. Também aqui há algo a mudar.
Que a luz do Natal rompa as nuvens escuras que nos ameaçam.
Até sempre
Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990