Opinião

O novo normal: o que vem a seguir?

22 mai 2020 13:10

Vamos, agora, retomar paulatinamente a actividade económica, mas conseguiremos voltar à situação da economia antes da Covid-19?

O futuro não se parecerá nada com o que pensávamos vir a ser apenas há alguns, poucos, meses atrás.

É certo que já se esperava um abrandamento do crescimento da economia global e, em consequência da economia portuguesa, mas tomávamos como certo o equilíbrio das finanças públicas, a redução percentual da dívida pública relativamente ao PIB, algum crescimento económico, a manutenção de baixos níveis de desemprego e, possivelmente, algum aumento dos nossos rendimentos.

De repente, o céu desabou sobre as nossas cabeças sob a forma de um vírus de que ainda sabemos pouco ou nada, obrigando-nos a uma quarentena bastante rigorosa e, em consequência, à quase paralisação da economia.

Vamos, agora, retomar paulatinamente a actividade económica, mas conseguiremos voltar à situação da economia antes da Covid-19?

Para aqueles que pensam e têm esperança de que as coisas vão voltar, basicamente, ao que eram antes, esqueçam!

Não vão voltar e, por isso, é importante que assumam esta realidade, desde já, para que possam concentrar-se nas soluções para que o “novo normal” do futuro possa funcionar.

Não basta termos esperança e um primeiro-ministro optimista.

Temos de assumir colectivamente uma vontade de sair da crise e, com esse propósito em mente, sermos, então, optimistas quanto a conseguirmos ultrapassar um futuro incerto e, com esforço, trabalho e empenhamento, construir um novo futuro melhor.

Felizmente, temos assistido à capacidade de algumas empresas portuguesas reconverterem as suas produções para novos produtos necessários ao combate a esta pandemia, com o empenho dos seus trabalhadores e a cooperação das instituições científicas, universitárias e outras, demonstrando resiliência e eficiência.

Mas não chega.

É necessário que o “novo normal” traga maior escrutínio e transparência dos negócios, não repetindo o que aconteceu com o sorvedouro de dinheiros públicos para os bancos, pagos pelos nossos impostos, como aconteceu (e continua a acontecer) na crise financeira anterior, sem que até hoje se consiga perceber bem qual foi o benefício para a sociedade, excluindo os seus accionistas e administradores que não dispensaram levantar dividendos, uns, e retirar prémios chorudos, outros.

O “novo normal” tem de rejeitar a teoria monetarista que advoga que as empresas existem, primordialmente, para gerar lucros capazes de remunerar os capitais investidos pelos seus accionistas, mudando o paradigma para que as empresas sirvam, não só os seus accionistas, mas também as pessoas e a salvaguarda do nosso planeta.

As preocupações ambientais e a atenção às alterações climáticas devem passar a ser factores críticos de sucesso para a gestão das empresas.

As alterações climáticas podem ser tão perigosas para a saúde pública como tem sido o surto de Covid-19.