Opinião

Mafalda

17 jul 2020 14:25

Para a Mafalda, o Chega, ao não ter ainda repudiado, programaticamente, o nazismo, adere, implicitamente, a uma ideologia responsável pelo brutal assassinato de seis milhões de pessoas.

A Mafalda é uma amiga de há muitos anos, socióloga, também licenciada em Ciência Política, que, quase por ironia, detesta políticos, especialmente aqueles que vivem a vida toda à conta dela.

A sua nova análise consiste em comparar o Chega e o PCP, em termos muito lineares.

Para a Mafalda, o Chega, ao não ter ainda repudiado, programaticamente, o nazismo, adere, implicitamente, a uma ideologia responsável pelo brutal assassinato de seis milhões de pessoas.

Por sua vez, afirma, também, ser factual e histórico que o comunismo, de Estaline e Mao Tsé-Tung, assassinou noventa milhões de seres humanos, ou seja, quinze vezes mais do que o regime nazi.

Por isso, e pegando nesta correlação, acha paradoxal e incompreensível que o PCP seja tão bem acolhido, na política portuguesa, ao contrário do que acontece com o Chega.

Com a agravante, defende, de que o PCP não só não se distancia, como, até, defende os regimes comunistas que têm um brutal histórico sanguinário, ao passo que o Chega nunca fez essa apologia ao regime nazi ou ao fascista.

Para esta minha amiga intelectual, muito exigente com os fatores histórico-sociológicos, tal deve-se a um vasto conjunto de razões, de entre as quais o facto de a universidade, outrora dominada por conservadores de Direita, ter sido tomada pela Esquerda radical, que seduz e ilude o povo com uma mensagem de igualdade, fraternidade e humanismo, “muito propalada mas nada praticada quando essa esquerda é poder”.

Portanto, na sua opinião, os radicais de Esquerda usam uma mensagem bem mais manipuladora, porque mais apelativa, do que o ideário nazi de terror.

Acrescenta, ainda, que tal deve-se ao facto de o nazismo não ter, em nenhum país, a prossecução oficial da sua ideologia.

Além de, na “pátria mãe”, a Alemanha, ser motivo de vergonha que levou, inclusive, o chanceler Willy Brandt a pedir perdão de joelhos, em 1970, junto ao memorial dos Heróis do Gueto de Varsóvia e, recentemente, o presidente da República, Steinmeier, a pedir, também ele, perdão, aos polacos, nas comemorações dos oitenta anos sobre o Holocausto, em Wielun.

Ao invés, remata, no comunismo, cuja filosofia norteia ainda países como a China a Coreia do Norte, Cuba e, em grande medida, a própria Rússia, que negam uma realidade histórica de extermínio, tal contrição não ocorre.

Verifica-se, até, uma generalizada atitude negacionista, talvez pelo facto de o genocídio comunista ter sido perpetrado, fundamentalmente, sobre o seu próprio povo, legitimado, na perspetiva dos seus líderes, pelo “superior interesse” do Estado, ao contrário do nazismo, que visava a agressão de outros povos.

Esta análise, que se afigura muito atual, face à nova realidade política portuguesa, merece apenas a minha concordância parcial.

Ao contrário da minha boa amiga Mafalda, considero que, quer o PCP quer o Chega são forças políticas que fazem falta à democracia, pois sem elas é a própria democracia que definha, por falta de oposição e denúncia das barbaridades que os ditos “democratas” não se coíbem de cometer.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990