Editorial

Entre a esperança na vacina e a crueza dos números

14 jan 2021 11:15

Esta reorganização dos hospitais, é preciso não esquecer, tem sido feita à custa do adiamento de consultas e cirurgias não urgentes. E isto vai ter impactos

Quando em Abril e Maio os números de novos casos de Covid-19 subiam, podíamos imaginar cenários complexos, mas talvez não tão maus quanto o actual.

É o pior momento da pandemia.

No distrito, praticamente todos os concelhos atingiram o pico de casos activos.

Aumentaram de 1.636 no dia 24 de Dezembro para 3.531 esta terça-feira, ou seja, mais do dobro.

No mesmo período verificou-se o maior volume de novos casos de sempre: 4.192, o equivalente a 35% do total desde o início da pandemia.

Números que têm de nos preocupar, não só em si mesmos, mas também pelo que trazem associado.

É que o número de doentes a necessitar de internamento também tem crescido.

Na enfermaria e no Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de Leiria estavam internados 101 doentes com Covid-19 entre 20 e 26 de Dezembro.

No período entre 3 e 9 deste mês eram já 109.

A subida do número de internamentos é uma realidade em todo o País e embora os hospitais tenham vindo a reorganizar os seus serviços de modo a dar resposta aos casos de SARS-CoV-2, a sua capacidade não é ilimitada e o aumento da pressão sobre os serviços prejudica uma boa resposta dos mesmos.

Mais grave ainda: em todo o País, o número de mortes diárias ultrapassa as piores previsões.

Esta reorganização dos hospitais, é preciso não esquecer, tem sido feita à custa do adiamento de consultas e cirurgias não urgentes. E isto vai ter impactos, que serão visíveis dentro de algum tempo, como o aumento dos casos de outras patologias.

Também a marcação de exames complementares de diagnóstico, nos privados e nas entidades com acordos de convenção, está atrasadíssima.

Para alguns procedimentos, a lista de espera vai de seis a oito meses.

Há mesmo entidades onde as marcações estão a ser feitas apenas para o final deste ano.

A pandemia vai ter impactos na saúde, mas também na economia, como já se esperava.

Se nos primeiros meses de confinamento os representantes das empresas alertavam que os reais impactos poderiam levar alguns meses a sentir-se, terminadas que estivessem as medidas de apoio, agora, com novo confinamento à porta, não parece haver dúvidas de que para muitas empresas a situação será pior do que naquela altura se afigurava.

Muitos cafés e restaurantes, bares e discotecas, por exemplo, não irão certamente conseguir reerguer-se depois de meses encerrados ou a funcionar a meio gás.

À hora de fecho desta edição ainda não eram conhecidos os detalhes do novo confinamento, mas o primeiro-ministro já antes dissera que irá durar pelo menos um mês.

Esperemos que o isolamento possa quebrar a transmissão do vírus, enquanto prossegue a vacinação.

A medida é uma esperança, “um caminho para a liberdade”, como diz um dos utentes de um lar de Porto de Mós vacinado esta semana.

Mas enquanto não houver imunidade de grupo e o número de novos casos não parar de subir, não nos resta alternativa a não ser reforçar, ainda com mais intensidade, as práticas que já conhecemos: desinfecção das mãos, uso de máscara e distanciamento, evitando ao máximo contactos sociais.