Editorial

Saúde, um bem precioso

26 nov 2020 14:37

Não adianta ter muitos e bons equipamentos, como ventiladores, essenciais para muitos doentes Covid, se não houver quem os saiba utilizar.

Ter saúde é, nos dias que correm, cada vez mais valorizado.

A Covid-19, que continua a propagar-se a um ritmo elevado, veio mostrar algumas fragilidades do Sistema Nacional de Saúde e dificultar o acesso de doentes a consultas e a exames relacionados com outras doenças, que não deixaram de existir porque há uma pandemia.

Os efeitos desta situação já começam a notar-se, mas só serão plenamente percebidos dentro de alguns meses.

Cancros que podiam ser detectados numa fase mais precoce, por exemplo, ficam por diagnosticar, com os resultados que se adivinham.

Um inquérito levado a cabo pela Gfk Metris para a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, cujos resultados foram conhecidos esta semana, dá conta que 97% dos inquiridos vê a saúde como algo de extrema importância, mas apenas 33% considera que o Governo lhe atribui a importância necessária.

Ao mesmo tempo, o acesso ao SNS também não satisfaz, com quase um terço dos inquiridos a dizer que é difícil. Se já antes era uma realidade, agora é ainda mais notória e dramática a falta de profissionais de saúde em algumas áreas.

Nesta edição publicamos uma reportagem sobre o Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santo André, em Leiria, onde existem apenas seis médicos no quadro. Também faltam enfermeiros.

Em todo o País os profissionais de saúde estão sobrecarregados, e Leiria não é excepção. Não adianta ter muitos e bons equipamentos, como ventiladores, essenciais para muitos doentes Covid, se não houver quem os saiba utilizar.

Apesar dos constrangimentos que enfrentam, e da necessidade de desempenharem as suas tarefas vestidos com uma panóplia de equipamentos de protecção individual, que lhes dificultam os movimentos e a respiração, os profissionais deste serviço colocam todo o seu empenho em salvar vidas.

É com “muito sacrifício e trabalho” que todos os dias há pequenos milagres no serviço de cuidados intensivos, onde esta terça-feira todas as dez camas destinadas aos doentes Covid em estado grave estavam ocupadas.

Outra situação que já antes da pandemia era um problema social veio agravar-se com ela.

Falamos dos idosos que, tendo alta, ficam a ocupar camas por não terem para onde ir.

Agora, depois de recuperados, já sem precisarem de estar internados, mas ainda com teste positivo e, por isso, a terem de se manter em isolamento, não têm quem os acolha.

Na semana passada havia 12 nesta situação, que nem os lares nem as famílias queriam receber. Ora, num cenário de escassez de meios e de camas disponíveis, não é difícil perceber o impacto de uma situação destas.

As famílias têm de apoiar os seus idosos, que nestas circunstâncias se sentirão naturalmente abandonados.

Sem ignorar os impactos que a Covid provocou nos outros grupos, o dos mais velhos será dos mais afectados, já que até os poucos contactos sociais que mantinham tiveram de ser cancelados.

Sozinhos e sem esperança, pouco ou nada os impedirá de desistir.