Opinião

Dia Mundial dos Pobres

19 nov 2022 11:04

O Dia Mundial dos Pobres instituído pelo Vaticano pode e deve ser compartilhado por todos aqueles que entendem ser importante defender e respeitar a dignidade dos mais pobres

No passado domingo, dia 13 de novembro, comemorou-se o VI Dia Mundial dos Pobres instituído pelo Vaticano, naturalmente destinado aos membros da Igreja Católica, mas pode e deve ser compartilhado por todos aqueles que entendem ser importante defender e respeitar a dignidade dos mais pobres, deixados “à mercê da incerteza e da precariedade”, como diz Francisco, face ao agravamento da situação global.

O Papa destaca que os cenários mais otimistas para o pós-pandemia, que prometiam “alívio a milhões de pessoas empobrecidas pela perda do emprego”, foram alterados pela guerra na Ucrânia, uma “nova catástrofe”.

Na realidade, segundo o relatório do Banco Mundial (BM) “Poverty and Shared Prosperity” que faz a primeira análise completa do cenário global da pobreza após a inesperada onda de choques que afetaram a economia global ao longo dos últimos anos, estima que a pandemia levou aproximadamente 70 milhões de pessoas à pobreza extrema em 2020, o maior aumento ocorrido em um ano desde o início de seu monitoramento global em 1990.

Isso levou aproximadamente 719 milhões de pessoas a subsistirem com menos de US $2,15 por dia no final de 2020 sem contar, ainda, com as consequências da guerra na Ucrânia. É neste contexto constrangedor que o Papa, nas suas mensagens de domingo passado, define dois tipos de pobreza: a pobreza que mata e a pobreza libertadora.

“A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspetivas nem vias de saída” A pobreza libertadora do ponto de vista católico, “é aquela que se apresenta como uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial”.

“Quando a única lei passa a ser o cálculo do lucro no fim do dia, deixa de haver qualquer travão à adoção da lógica da exploração das pessoas: os outros não passam de meios. Deixa de haver salário justo, horário justo de trabalho e criam-se formas de escravidão, sofridas por pessoas que, sem alternativa, têm de aceitar esta injustiça venenosa, a fim de ganhar o sustento mínimo”, refere, num texto divulgado pelo Vaticano.

“Sabemos que o problema não está no dinheiro em si, pois faz parte da vida diária das pessoas e das relações sociais. Devemos refletir, sim, sobre o valor que o dinheiro tem para nós: não pode tornar-se um absoluto, como se fosse o objetivo principal”, precisa. No entanto, o Papa avisa: “Não demos ouvidos aos profetas da desgraça; não nos deixemos encantar pelas sereias do populismo, que instrumentaliza as necessidades do povo, propondo soluções demasiado fáceis e precipitadas. Não sigamos os falsos messias que, em nome do lucro, proclamam receitas úteis apenas para aumentar a riqueza de poucos, condenando os pobres à marginalização”.