Opinião

Co-Imunidade

11 mar 2021 16:51

Culpabilizados, humilhados, mal pagos e ofendidos, seremos nós que iremos reconstruir o que o vírus político mandou abaixo.

Com os livros proibidos e o vinho em desconto nas grandes superfícies, Croquete e Batatinha (PR & PM) continuam a insistir para que fiquemos no sofá a ganhar carne, a amolecer com o vinho que “educa”.

Mas, até de peida sentada, podemos adquirir mundo se nos limitarmos a um copo ao fim-de-semana, ver coisas na Netflix que nos abram os horizontes, que nos digam QUE o que vai acontecer no “futuro” não será mais que uma repetição do passado.

Um desses casos é o documentário de Daniel Lindsay e T.J. Martin (LA’92) sobre os motins de Los Angeles, depois do brutal espancamento de Rodney King (afro-americano) e a absolvição dos polícias que quase o mataram, por um juiz (branco).

A história é conhecida e tem-se repetido, mas vale a pena ver para aprender.

Não há hipótese de spoiler pois toda a gente conhece a trama: absolvição-caos-motins-pilhagens-ruínas, com mais de 900 edifícios em escombros.

O Presidente da altura, George Bush Sénior, seguiu a cartilha do costume: adiar, ser reactivo e não-proactivo, reforçar o aparato policial, acusar quem foi para as ruas, branquear a culpa, varrer para debaixo do tapete a causa das coisas.

Depois, com aquele “sentido de Estado” que sabemos, enviou helicópteros, tanques, soldados.

Porém, quase no fim do filme, a cena que se destaca neste desfilar de ódio incompetente, é a da comunidade hispânica, branca, asiática e afro-americana que se dirige aos edifícios destruídos com vassouras e esfregonas, em vez de armas, e começa a limpar, a reconstruir, a renovar não só as casas, mas o material com que se constroem as sociedades: os laços da autenticidade.

O que é que isto tem a ver com Portugal? Tudo.

São os populares que limpam as matas ardidas, são os jovens que tiram o plástico da areia da praia, são os familiares que mandam comida, carinho, abraços de longe.

Culpabilizados, humilhados, mal pagos e ofendidos, seremos nós que iremos reconstruir o que o vírus político mandou abaixo.