Opinião

Um longo debate

26 dez 2023 16:00

"É possível fazer bem mais pela cultura do que esta conversa para boi dormir, com generalidades sobre mecenato privado", a opinião de Fernando Ribeiro

Em vez de ter sido um grande debate, o É ou Não é?, sobre a cultura e os “portugueses” na RTP 1, no passado 12 de Dezembro, foi apenas longo e inconclusivo, salvando-se as intervenções do promotor Álvaro Covões.

Podem criticá-lo à vontade, mas foi o único convidado que levantou questões pertinentes, por exemplo, a desproporcionalidade entre jornalistas da cultura e do “desporto” (leia-se futebol) e, acrescento, da política na RTP.

Sendo que um terço do orçamento da Cultura é designado para a RTP, não deixa de ser uma belíssima questão.

De resto, fez-se a solene divisão entre baixa e alta cultura, se bem que não houvesse nenhum representante da primeira; incensou-se, como sempre, as qualidades do cantor Dino Santiago e do Hip-Hop; e, claro está, do fado das salas boas da Europa e do Mundo.

E de música, pela falta de comparência do Pedro Abrunhosa, pouco mais se falou.

Mesmo que se tivesse falado, extrapolaria que o ministro Adão e Silva fosse pouco incomodado com assuntos como a nova direcção e orientação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, que, exclui do seu âmbito a música de “artistas comerciais”, que segundo o entendimento do seu director Américo Rodrigues, não será a “cultura” que se deve estimular; o eterno e luxuoso IVA sobre os produtos fonográficos; ou o despropositado “imposto sobre o artista estrangeiro” num país em que a dupla tributação não funciona e onde as empresas culturais o apresentam como “custo” na sua contabilidade.

Compreendo que se tratava de um debate geral e impossível de se especificar casos e chegar a conclusões num programa de TV, mas de facto acredito que é possível fazer bem mais pela cultura do que esta conversa para boi dormir, com generalidades sobre mecenato privado (os nossos empresários também eles sofrem de desinteresse cultural) e conversas sobre a educação cultural na escola, onde toda a gente luta apenas pela sobrevivência ao fim do dia e onde as aulas de música são praticadas numa flauta de plástico que não faz bemóis.