Opinião

Quem pode, manda

8 abr 2021 11:44

Resta-nos o consolo das obras no castelo. Serão caras, serão baratas?

E quem manda, manda fazer com o nosso dinheiro. A Capital Europeia da Cultura somou mais uma despesa simpática: 74 mil euros de consultoria para chocar de frente com a Lei, no chumbo do Tribunal de Contas.

Afinal a Régie Cooperativa não avança porque “viola o regime legal” sobre as cooperativas e cria “uma figura sem sustentação jurídiconormativa”.

No acórdão, o colectivo de juízes tece ainda duras críticas ao estudo de viabilidade económica e financeira, que serviu de sustentação à constituição da régie cooperativa”. As perguntas que me ocorrem são: quem escolheu a empresa e com que critérios?

A autarquia vai ser ressarcida do dinheiro gasto? Se a candidatura não ficou “beliscada” com este chumbo, então para que servia a Régie Cooperativa? Continuemos.

A requalificação dos edifícios do Mercado Municipal de Leiria, adjudicada por 3,4 milhões de euros, vai custar mais 440 mil euros, devido à necessidade do reforço estrutural da cave do espaço principal. Ou seja, em vez de lançar uma obra com a totalidade dos custos contemplados, só depois é que se percebe que afinal havia trabalhos a mais.

Onde é que já vimos isto?

Mas há mais: o Polis, 850 mil euros depois, está irreconhecível.

As cores berrantes do piso betuminoso e o Rossio na Betesga que entalam peões e ciclistas darão que falar certamente, pois não é difícil perceber que a tranquilidade e descontração com que milhares de pessoas ali passeavam se perdeu, de vez.

Mas há despesas “pequeninas”. A nova escultura para o Jardim das Almuinhas aquele que não tem sombras nem sombrinhas porque as árvores de grande porte são caras – vai receber pelo menos uma sombra. A que uma estátua de 6,5 m de altura em poliestireno expandido (o nome da esferovite…) vai fazer.

A “estátua” custa cerca de 25 mil euros e foi um convite da autarquia. Chama-se, poeticamente, “Futuro” embora feita de um material da família dos plásticos.

O presidente da Câmara afirmou “não tenho dúvidas de que vale muito mais”, embora eu não conheça os fundamentos desta afirmação. Quanto a ser um convite, a argumentação é de que se no passado assim era, porque não há de agora ser assim também?

A mim apetecia-me responder que se no passado não havia uma política cultural com critérios conhecidos, isso não significa que agora não devêssemos saber quais os critérios das encomendas a artistas. Mas isto sou eu, que não compreendo a falta de sombras naquele jardim…

Resta-nos o consolo das obras no castelo. Serão caras, serão baratas? Confesso que não faço ideia.

Mas, para além da discussão de mesa de café do “gosto versus não gosto”, há o peso de séculos de História e a responsabilidade de intervir naquilo que tem de continuar depois de nós. Convido-os a conhecer quem pensa de forma diferente, numa página de Facebook chamada: RepensandoMedievo.

Em 2004, ouvi muitas vezes que não gostava de Leiria por ser muito crítica da construção do estádio. 17 anos depois, será que alguém é capaz de se levantar e defender o maior erro da cidade?

Quem é que gosta de Leiria afinal??