Opinião

Que sorte ele tem!

11 jun 2017 00:00

Os olhos dele e a forma como se aconchegou quando foi pegado ao colo… tornou-o irresistível.

Todos os dias procurava sair do trabalho e regressar a casa com o tempo suficiente para se dedicar ao Mateus e às atividades recomendadas pelos especialistas, no sentido de se criarem condições para que os traumas e frustrações do abandono fossem ultrapassados.

Não ficar fechado e isolado em casa, mas antes sair todos os dias, correr, saltar, contactar com a natureza, aprender a resolver de forma autónoma os pequenos problemas que podem surgir e sempre na presença protetora de um adulto significativo (que orienta e controla, se e quando necessário), foram questões desde sempre assumidas por ambos os membros do casal.

A verdade é que para ela era bem mais difícil, e, quando tal acontecia, tinha agora que levar também a Maria (a filha biológica, que “resolveu” aparecer inesperadamente, dois anos depois da “adoção” do Mateus). Tratou-se de um processo relativamente rápido, até porque parece ter sido amor à primeira vista.

Os olhos dele e a forma como se aconchegou quando foi pegado ao colo… tornou-o irresistível. Encontrava-se doente e desnutrido requerendo um conjunto de cuidados, mas não apenas ao nível físico e nutricional, mas também na necessidade de se sentir aceite e amado, o que, depois de um início de vida de rejeição, era fundamental.

Até à chegada de Maria, o tempo disponível tinha sido organizado em função do Mateus. O pai tinha assumido que as brincadeiras e as saídas eram responsabilidade sua. Desde há algum tempo a mãe vinha-se questionando se o marido (eventualmente ela própria) não estariam a proporcionar mais tempo e de melhor qualidade (como ela dizia) ao Mateus, em detrimento da Maria.

De facto,todos os dias os dois saíam, com o Mateus aos saltos de contentamento; o pai, dando pequenas corridas e fazendo pequenas paragens, desafiava o Mateus a exercitar-se. Às vezes até derrapava quando era para parar de repente…

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*Psicólogo clínico