Editorial

Os custos do vandalismo

26 ago 2021 11:50

Por cá, salvo honrosas excepções, o mais habitual é reclamar-se da falta de melhores espaços públicos

Nos arredores de Rheine, a cidade alemã geminada com Leiria, existe uma simpática aldeia, serpenteada de ruelas estreitas forradas a pequenas peças de betão.

Num clima húmido, característico naquela zona, seria normal ver o piso, sobretudo entre as juntas, coberto de verdete. Ou tropeçar frequentemente em tufos de erva daninha.

Mas é precisamente o contrário. O que se pode constatar ao passear no centro da localidade é um piso imaculado, isento de verde cor de abandono. E porquê?

Porque os moradores, periodicamente, reúnem-se com o propósito de limpar a rua: a sua rua.

E fazem-no sem qualquer intenção de protesto contra os serviços municipais, mas simplesmente por sentido comunitário.

Porque têm esmero e orgulho no espaço público que habitam.

Por cá, salvo honrosas excepções, o mais habitual é reclamar-se da falta de melhores espaços públicos, da localização e da forma, em vez de se educar, incentivar e promover a preservação colectiva desses mesmos espaços.

Recentemente, um grupo de amigos foi notícia por se ter reunido para recuperar os espaços envolventes da Lagoa da Ervedeira, na freguesia do Coimbrão (concelho de Leiria), destruídos pelo fogo de 2017. Um esforço admirável, mas quase inglório. 

Dias depois dos primeiros arranjos, as pontes, bancos e até as mesas do parque de merendas, construídas com madeira tratada, foram desmanteladas e furtadas.

Lamentavelmente, este não foi um caso isolado.

Como vos contamos esta semana, todos os anos as autarquias são obrigadas a gastar dezenas, senão centenas de milhares de euros, para reparar os estragos resultantes de actos de vandalismo contra o património.

Há até situações, por exemplo nas Caldas da Rainha, em que o município sentiu a necessidade de gratificar as autoridades policiais para assegurar uma maior vigilância dos espaços públicos, no intuito de minimizar as despesas com a reparação de danos causados por actos de selvajaria.

Se é legítimo exigirmos melhores espaços verdes, mais ciclovias, zonas de lazer, áreas urbanas limpas e cuidadas e património cultural de excelência, é também um dever cuidarmos e ensinarmos a cuidar dos espaços públicos que nos rodeiam.