Opinião

Letras | Festival Afonso Lopes Vieira (2023): (re)inventar uma Art Gallery no Posto de Turismo em S. Pedro de Moel

18 ago 2023 08:00

Noutros e antigos tempos (em 1961 e em 1963) a Arte saiu à rua em S. Pedro de Moel e esculturas de Leopoldo de Almeida, Joaquim Correia e outros artistas, pelas mãos da benemérita Gulbenkian, povoaram o nosso lugar literário: eu nasci em 63, mas conservo na minha genética a beleza que aquela arte trouxe à minha família e à minha comunidade

Quando, em junho deste ano de 2023,me contactaram da CMMGrande, a pedir a minha colaboração opinativa e participativa no festival referido em epígrafe, senti-me honrada como marinhense de 6 décadas e coloquei duas condições: que o IPL, meu lugar profissional e afetivo de há quase 4 décadas, fosse informado e desse a autorização imprescindível a quem trabalha em exclusividade; e tornei-me a sócia número 60 da PROTUR, associação sem fins lucrativos, destinada à promoção do turismo em S. Pedro de Moel, onde tenho o privilégio de habitar há quase 4 décadas.

Todo o parágrafo anterior pode parecer ou ser interpretado como ‘conversa de mulher na curva descendente da vida’; porém, é bem mais do que apenas isso: é (também) uma mudança de registo da literatura para as outras formas de arte, sobretudo a pintura. Pode ser entendido como uma aventura ou uma abertura de janela para a(s) paisagem(ns) do(s) mundo(s) da arte.

A reunião com a sra. Vereadora da Cultura da MGrande correu muito bem e – embora as expetativas com a Casa Museu Afonso Lopes Vieira, que incorporaram as minhas sugestões, não se tenham realizado até ao momento (14 agosto)… – a proposta de atividades da PROTUR (que abrange um leque grande, diversificado e muito desigual de atividades para alcançar os diferentes públicos veraneantes na nossa praia, que é um ‘lugar literário’…) está à vista de quem quer ver e os meios de comunicação e redes sociais têm-nos divulgado.

Pessoal e particularmente, interessa-me a relação entre a literatura ou poesia e a música (ut pictura, poesis…) e o modo como se está a tentar transformar esse processo criativo numa série de três exposições, no antigo Posto de Turismo (perto do café Bambi e do parque infantil Arala Pinto), que batizámos como Art Gallery, numa tentativa de lhe dar uma nova vida e uma identidade cultural, cujo rosto e casa arquitetónica ainda espera a concretização de sonhos e ideias também já avançados à Vereação e em lista de espera…

Pacientemente, e mais ou menos notadas e referenciadas pelos meios de comunicação, já tivemos duas exposições de pintura até ao momento: 1. Durante o mês de julho, a do pintor amador Rui Pascoal, Pinturas e Travessuras, que teve a presença do sr. Presidente da CMMG na inauguração; 2. De 1 a 14 de agosto, a do arquiteto e sketcher João Coutinho, com as doces e amáveis palavras da vereadora da Cultura; 3. De 15 a 30 de agosto, a do escultor e pintor (com relevo internacional já firmado), o vizinho da Maceira, Abílio Febra, Con-frontos, e a bola de cristal ainda não me disse de quem será a presença da edilidade, mas eu tenciono estar presente e deliciar-me.

Noutros e antigos tempos (em 1961 e em 1963) a Arte saiu à rua em S. Pedro de Moel e esculturas de Leopoldo de Almeida, Joaquim Correia e outros artistas, pelas mãos da benemérita Gulbenkian, povoaram o nosso lugar literário: eu nasci em 63, mas conservo na minha genética a beleza que aquela arte trouxe à minha família e à minha comunidade. Pelo menos na minha casinha de férias, essa era uma narrativa do passado tão frequente, que se tornou para mim num presente eterno. E este é um dos poderes não comerciais da arte: subverter a estrutura do tempo humano com o sopro do enigma da surpresa artística…

Modestamente, a Art Gallery está, em 2023, a tentar fazer isso graça a estes três nomes de artistas amigos da cor, do pormenor, da pedra e do detalhe: a vida no seu esplendor.