Opinião

Deus m’ajude.

12 jan 2020 11:47

Acreditar na justiça, nos Direitos Humanos, ou na decência humana, é hoje, para mim, um exercício tão desoladoramente abstracto, que até chego a rezar.

Eu não tenho fé. Não acredito na existência de Deus, pelo que seria esquisito dizer que tenho fé em alguma coisa.

Ainda assim, constato muitíssimas vezes que tenho muita esperança que várias coisas que são praticamente impossíveis de acontecer aconteçam.

 

Desde acreditar na redenção do ser humano, até crer que Trump vai deixar de negar as alterações climáticas e que Bolsonaro ganhará inteligência através de livros didáticos muito cheios de coisas, toda eu sou pensamento mágico.

Têm-me dito que a isto se chama fé, mas eu não ligo.

Por outro lado, também gosto muito de heróis, desde os (cada vez mais ocos) da Marvel, passando pelo Harry Potter, acabando no Luke Skywalker, sempre me entusiasmei muito com as personagens que entendem, depois de várias peripécias, que com grande poder vêm grandes responsabilidades.

Há qualquer coisa de hipnotizante no messianismo, não é?

Pois era aí que eu queria chegar. Comecei - e acabei, num ápice, diga-se de passagem - a ver uma série nova de um desses canais de streaming que arruinam a vida de pessoas de bem. Messiah é uma chachada, segundo os críticos, mas eu gostei.

Tem sido muito maldita, ironicamente, pela mesma razão que o seu protagonista tanto sofre: porque ninguém neste mundo de hoje estaria preparado para receber a segunda vinda de Cristo à Terra. E reparem, eu não me esqueci que sou ateia - continuo a não acreditar em Deus ou nos milagres de Cristo.

Mas da mesma forma que consigo imaginar um Universo com sabres de luz, também consigo imaginar o que seria se Jesus afinal fosse mesmo o filho de Deus e viesse à Terra mostrar alguns truques.

Os aspectos mais importantes da sua mensagem - amar o próximo, não fazer aos outros o que não queremos para nós, dar tudo o que temos - são, na nossa sociedade pretensamente Judaico-Cristã, uma verdadeira ilusão, tão ou mais inverosímil que um homem voador vindo de outro planeta.

Tenho pensado nisto desde então.

Acreditar na justiça, nos Direitos Humanos, ou na decência humana, é hoje, para mim, um exercício tão desoladoramente abstracto, que até chego a rezar.

Ao ponto a que cheguei!

Acham que vai ser um ano difícil?