Opinião
Artes Visuais | Mircea Albutiu, o Branquinho
Procurem-no no Instagram, no Vimeo ou na Livraria Arquivo, para terem uma visão singular do mundo, de Portugal, de Leiria
O Mircea apareceu no meu atelier a primeira vez em 2019 com uma amiga comum, a Ana. Apresentou-se como um fotógrafo/videógrafo romeno de meia idade, curioso por conhecer artes e artistas portugueses. Deu umas voltas pelo litoral central português e apaixonou-se pelo cenário e pelas gentes. A Ana combinou com ele uma residência artística no Serra - Espaço Cultural, a começar dentro de uns meses. Iria ficar durante cinco ou seis semanas e era suposto trabalhar com os residentes permanentes num projecto por ele orquestrado.
Na segunda semana teve a felicidade de partilhar o espaço com um outro grupo de artistas que estavam também em residência. Eram cinco raparigas finalistas do curso de artes plásticas das Caldas da Rainha, super divertidas. Mircea deambulava pelos ateliers durante o dia a fotografar, a filmar e a meter conversa. Feito o dia, jantava e confraternizava com as miúdas da ESAD e com a malta que vinha trabalhar à noitinha.
Durante a sua estadia fez um pequeno filme a preto e branco onde documentou de uma forma vaga o dia a dia do colectivo, uma fotomontagem com os residentes permanentes a encenarem o que aparentava ser uma cena mitológica, e o esboço do que viria a tornar-se o seu primeiro livro de fotografias editado. Tudo muito bem, um gajo porreiro, um trabalho também porreiro, a passar um tempo em Leiria.
Já pensava no regresso à Roménia quando o inesperado aconteceu, rebentou o Covid. A residência que inicialmente se adivinhava ser um mês e meio, sempre rodeado de muita gente, tornou-se uma estadia de cinco meses sozinho no Serra. Acreditem ou não, adorou. Acabado o tempo de quarentena, despediu-se da malta e seguiu viagem.
Passados mais uns meses candidatou-se a nova residência, agora um pouco mais comprida e apareceu. Queria expôr o trabalho feito e continuar a documentar o centro do país. Fez vários roteiros a conhecer o Rio Lis e usava o Serra, que é mesmo junto à nascente, como base de acampamento/atelier.
Apaixonado por isto tudo, decidiu ter aulas de português e mudar-se com a esposa definitivamente para Portugal. Trouxe a tralha toda da Roménia, comprou um apartamento nas Cortes, e estabeleceu-se por cá. Passa uma parte do ano a trabalhar em projectos no estrangeiro, mas para onde volta, sempre, é agora Leiria.
Mircea é um habitual no Serra ainda hoje, trabalhamos frequentemente juntos e consideramo-lo parte da “irmandade” por assim dizer. Albutiu o seu sobrenome, acabou por ditar a sua alcunha, que traduzido para português diz-se Branquinho. Por lhe conferir um ar mais tuga, e isso o encher de orgulho, é assim que o chamamos.
Procurem-no no Instagram, no Vimeo ou na Livraria Arquivo, para terem uma visão singular do mundo, de Portugal, de Leiria, ainda hoje supresa e deslumbrada.