Sociedade

Suinicultura portuguesa gera negócios de 600 milhões

29 abr 2016 00:00

CriseEstá a perder 7,5 milhões de euros por mês desde Outubro. A suinicultura nacional “caminha a passos largos para o colapso” e se nada for feito a produção pode cair para metade até ao fim do primeiro semestre, alertam os dirigentes ouvidos

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Raquel de Sousa Silva

Espanha é o principal mercado Leiria assegura 27% das exportações
Não sendo auto-suficiente na produção de carne de porco, Portugal importa muito mais do que exporta. No ano passado, as importações somaram 149,2 milhões de euros, que comparam com os 173,1 milhões de 2014. Espanha é o principal vendedor de suínos vivos a Portugal, mas em 2015 também comprámos porcos na Holanda, na Bélgica e na Alemanha (neste dois países em menores quantidades).

Os dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que Leiria também importa muito mais do que exporta. No ano passado as compras de suínos vivos no mercado externo somaram 25,5 milhões de euros. Tinham sido 31,7 milhões em 2014. Os animais vieram sobretudo de Espanha.

E foi para o país vizinho que se vendeu também a maioria dos 9,6 milhões de euros facturados pelo distrito em 2015. Para a Alemanha foram enviados porcos no valor de 550 mil euros. As exportações de Leiria pesam 27,3% no total nacional, que no ano passado foi de 35,1 milhões de euros, uma subida de 31,4% face a 2014, quando as exportações portuguesas de suínos vivos atingiram os 26,7 milhões de euros.

Antes de 2013 as vendas para Espanha registavam uma tendência de subida, tanto a nível nacional como no distrito. Mas “isso mudou nos últimos anos”. Com o embargo russo e o excesso de oferta que passou a existir em praticamente toda a Europa, o país vizinho, “muito proteccionista” e ele próprio excedentário em termos de produção, como refere David Neves, passou a comprar menos a Portugal.

 

Vale 600 milhões de euros e dá emprego directo a perto de 200 mil pessoas. A suinicultura é um sector com reconhecida importância também no distrito de Leiria que, daquele volume de negócios, será responsável por 40%, ou seja, por 240 milhões, estima David Neves, vice-presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores.

O também presidente da Associação de Suinicultores do Concelho de Leiria lembra a importância sócioeconómica do sector, que movimenta muitas outras actividades. A atestar a pujança que a suinicultura tem na região de Leiria está a existência de pelo menos uma dúzia de fábricas de rações, refere.

Mas o sector “caminha a passos largos para o colapso”, garante o dirigente, alertando que se não forem tomadas medidas rapidamente a região poderá perder entre 40 a 50% da produção. Mas por que motivos está, afinal, o sector em crise? Os suinicultores e dirigentes apontam várias, como a concorrência de carne espanhola e os baixos preços pagos à produção.

“Espanha é excedentária na produção de carne de porco, tem apoios que nós não temos e coloca cá aquilo que não consome”, aponta João Correia. O porta-voz do movimento de suinicultores reconhece que não sendo Portugal auto-suficiente – só assegura 55% das suas necessidades – terá sempre de importar carne de porco.

“Não tem é de o fazer da forma desregrada como tem feito”. João Correia garante que a suinicultura nacional está a sofrer perdas mensais de 7,5 milhões de euros desde Outubro. E que haverá em breve empresas a “abrir falência”, com o consequente desemprego daí resultante – diz, aliás, que nos últimos quatro meses já terão desaparecido 20 mil postos de trabalho -, o que se traduzirá em problemas sociais.

O dirigente frisa que a suinicultura nacional não está a conseguir exportar para Angola, devido ao arrefecimento desta economia, nem para a Rússia, devido ao embargo, nem para “outros países com potencial”, como a China ou o México.

“Há uma directiva europeia com cerca de quatro semanas que considera que os Estados-membros podem ajudar os sectores que estão a precisar, mas Portugal não tem condições financeiras para apoiar a suinicultura”, lamenta João Correia. Também David Neves entende que, com esta posição, Bruxelas “está a destruir o sector primário em toda a Europa”.

Ao propor que “cada país ajude directamente a sua produção, só agrava as diferenças entre os Estados-membros”. O vice-presidente da federação diz “não compreender” que Portugal não abra processos de exportação de suínos para a China, por exemplo, país com o qual tem “relações privilegiadas”.

“Não se entende que Portugal seja dos poucos países da União Europeia que não pode exportar para a China, para a Coreia, nem para o México. Os certificados de exportação são emiti dos país a país. É incompreensível que estes mercados não estejam abertos”. Sem estas alternativas, e com Angola a cortar nas importações, “estamos dependentes do mercado nacional”, aponta David Neves.

Quinta-feira passada, num jantar-conferência em que foi orador em Leiria, o primeiro-ministro admitiu que a suinicultura atravessa uma “crise gravíssima”, mas considerou que apenas uma mudança no cenário do embargo russo poderá resolvê-la a curto prazo.

“Não creio que tenha solução de curto prazo que não passe por uma alteração de política da União Europeia, designadamente em matéria das relações com a Rússia”, afirmou António Costa. ...

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