Desporto

Pontapé na tristeza

30 set 2017 00:00

Os clubes dos concelhos mais fustigados pela tragédia de há três meses regressam ao futebol sénior. Mais do que golos e vitórias, entram em campo para cumprir duas missões: honrar os mortos de 17 de Junho e fazer renascer o orgulho da população.

Recreio Pedroguense (Foto: Ricardo Graça)
Sport Castanheira de Pera e Benfica (Foto: DR)
Sport Castanheira de Pera e Benfica (Foto: DR)
Sport Castanheira de Pera e Benfica (Foto: DR)

No Sport – é assim que o Sport Castanheira de Pera e Benfica é conhecido na terra – o futebol sénior despediu-se em 2012. Mas a terra clamava pela bola ao domingo e a nova Direcção já tinha bem definido o desígnio de apresentar equipa na temporada que agora começa.

A vila não podia continuar a morrer aos poucos e o desporto tinha de ter um papel a desempenhar. Era, de resto, essa a função que Gonçalo Assa queria ter para aceitar um cargo nos órgãos sociais: organizar um onze que representasse condignamente o nome de Castanheira de Pera,

A tragédia de 17 de Junho levou Gonçalo Assa – o bombeiro faleceu devido às graves queimaduras que sofreu – mas, até por isso, o guião teve de se manter. Tozé, pai de João Carvalho, o craque do Benfica e da selecção de sub-21, era “como um irmão” de Gonçalo e foi ele o escolhido para substituir o insubstituível.

Passados três meses da tragédia, o cheiro a queimado permanece, incómodo, como que não deixando esquecer o que não é possível esquecer. Também o campo de futebol, com eucaliptos a rodeá-lo por três dos lados, sofreu com o incêndio. Mas houve algo que não sofresse?

“O depósito de rega ardeu, a vedação de um dos lados do campo ficou destruída e o relvado tem uma área de 150 metros quadrados que terá de ser substituída, pois tem pequenas áreas queimadas”, diz José Chamorra, vice-presidente do clube.

Não é por isso que os treinos vão parar ou os jogos deixar de decorrer. O primeiro deles é já no sábado, frente ao Lusitano de Chão de Couce e, para esta gente, pouco importa se ganham ou perdem. “Não se pode pensar que a equipa é forte ou que vai ganhar os jogos todos. Temos muito mais do que objectivos desportivos”, enfatiza António Carvalho, o presidente.

Apesar de todas as dificuldades, dos apoios para a construção de uns balneários e de uma bancada que tardam em chegar, o momento em que roda a bola retira, por momentos, toda aquela rapaziada da tristeza dos dias, das obras de reconstrução e do pensamento naqueles que partiram.

Do plantel, composto por um elevado número de atletas com idade júnior, consta Rodrigo Tomé. Ele é filho de Fernando Tomé e irmão de Fernando Paulo, dois dos bombeiros que estavam no veículo acidentado que acabou por levar à morte de Gonçalo Assa. Ambos ficaram queimados, mas o irmão teve alta hospitalar já em Agosto.

O progenitor sofreu mazelas mais graves e apenas na segunda-feira foi transferido para uma clínica de reabilitação. “Está a fazer fisioterapia, mas tem graves sequelas, problemas ao nível da respiração e nunca mais vai ser a mesma pessoa”.

Os dias têm, pois, sido “difíceis” para aquelas bandas. “Não se consegue orientar uma ideia perante aquilo que aconteceu. São tantas coisas más que nós, que andámos no terreno, ficamos baralhados com o que se passou”, desabafa o presidente, preocupado, sobretudo, com o futuro das crianças que de mais perto viveram aqueles

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