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Palavra de Honra | “Procuro sempre ensinar que ainda não se paga para sonhar”

3 ago 2025 10:15

Adriana Paraíso , Cantora e Professora de Música

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Já não há paciência... para um mundo onde as futilidades e as aparências vivem sobre todos os valores humanos necessários e imprescindíveis, para um quotidiano saudável. As pessoas estão mais focadas em mostrar o que têm, do que em dar o que podem.

Detesto... mentes ultrapassadas, onde se cultivam ideias extremistas e de pouca inovação. Mentes onde o foco para o seu sucesso está em cativar quem pouco percebe e quem pouco lê.

A ideia... de que se gosta de “um pouco de tudo” é uma total indefinição de personalidade. É uma forma da ignorância passar despercebida. “Ah, eu gosto de qualquer música”, é impossível esta frase ter alguma veracidade.

Questiono-me se... cada pessoa mantém dentro de si a criança que já foi? Pois se essa força de espírito estivesse presente em todos, o mundo seria algo muito melhor.

Adoro... estar com os meus animais, às vezes mais do que com os meus amigos. Sinto que os animais são, muitas vezes, melhores que certas pessoas. Estão sempre lá para nos fazer companhia.

Lembro-me tantas vezes... de quando era pequenina, do cheiro da casa da minha Avó Luz, do delicioso bacalhau cozido com grão que me fazia sempre que vinha da escola para almoçar, dos vários nomes pelo qual me chamava, Pomba Rosa - o meu preferido, daquela ligação forte que agora vive em mim como uma memória diária de grande e frágil nostalgia.

Desejo secretamente... ter um lugar na música, onde o meu lado criativo possa ser ouvido em composições minhas e apreciado por muitos, para além da minha qualidade vocal. Não quero que me conheçam só pela minha voz, mas pelo que posso fazer com ela.

Tenho saudades... das viagens anuais de carro sem perceber, educando o meu ouvido com excelentes melodias, muitas delas complexas, de variados artistas, que sei que não teria outro acesso senão através dos meus pais.

O medo que tive... desapontar quem mais gosto. Sempre gostei de agradar a quem está à minha volta, mas só mais tarde percebi, que a primeira pessoa a ter que ser agradada, sou eu. Se nós não estivermos felizes, quem vai estar por nós?

Sinto vergonha alheia... de quem pouco altruísta é, principalmente com os mais velhos. Há uma falta de empatia e civismo hoje em dia que se perdeu com o passar do tempo, principalmente nos pequenos gestos, como ceder um assento a alguém que precise mais do que nós.

O futuro... parece cada vez mais longe de ser sorridente. Sempre que estou a leccionar pergunto-me como será o futuro destas crianças? Vão conseguir encontrar um emprego estável? Constituir família? Sustentar todas as despesas de uma vida adulta? Lidar com as decadências do nosso planeta? Embora pense nisto, procuro sempre ensinar que ainda não se paga para sonhar!

Prometo... ser a melhor versão de mim mesma, em cada dia, em cada situação, em cada desafio, em cada obstáculo. Nada se constrói num dia, é preciso dar tempo ao tempo e saber aceitar que nem tudo vem quando queremos mas sim quando precisamos. Estar sempre presente com quem precisa de mim. Ser sempre para o outro o que gostaria que fossem para mim.

Tenho orgulho... em saber cantar, ter este dom e através da música levar o que de mais profundo sinto. Em saber ensinar e ter a oportunidade de receber abraços de dezenas de crianças diariamente. Das minhas origens, de quem está comigo e de quem nunca deixou de estar.