Economia

Glartek, startup de Leiria, é peça-chave nos bastidores de grandes empresas

31 dez 2023 13:00

Empresa desenvolveu plataforma digital que tem contribuído para aumentar a segurança e a produtividade das maiores unidades industriais

glartek-startup-de-leiria-e-peca-chave-nos-bastidores-de-grandes-empresas
Bruno Duarte, CEO da Glartek
DR
Daniela Franco Sousa

Um suporte de orientação digital, uma plataforma de trabalho aumentada e conectada, sem código e personalizável, que permite às equipas da linha da frente de cada indústria aumentar a sua produtividade e segurança, com maior mobilidade e sem recurso a papel. É este o produto que a Glartek tem vindo a desenvolver e que lhe tem permitido chegar a grandes clientes industriais, em Portugal e também no estrangeiro, salienta Bruno Duarte, CEO desta startup de Leiria.

A empresa foi constituída em 2017 e está instalada nos Parceiros, na Startup Leiria. A localização, explica Bruno Duarte, prendeu-se não apenas com a proveniência dos seus fundadores iniciais, naturais desta região, mas também porque a Glartek desde sempre teve entre os seus clientes muitas empresas da área dos moldes, sediadas neste território. Acresce ainda, que era importante ter proximidade com o Politécnico de Leiria, onde a empresa pudesse contratar pessoas formadas nas áreas da engenharia, mecânica e informática, aponta o CEO, sem descurar a própria centralidade geográfica de Leiria no mapa nacional.

Bruno Duarte refere que “talvez 99% das empresas que trabalham no ambiente industrial tentam ao máximo retirar o humano do dia-a-dia desse ambiente”, automatizando sistemas de produção, inspecção, qualidade, packaging, entre outros. “E nós focamo-nos nos procedimentos e processos onde não será possível tão cedo, ou provavelmente nunca, a automatização. São procedimentos de segurança, configuração de máquinas, o ligar e desligar, fazer alteração de linhas de produção, realizar inspecções de qualidade às próprias máquinas, fazer a manutenção das mesmas, etc.”, especifica o responsável pela Glartek.

“O que fazemos é criar uma plataforma digital onde documentamos, passo a passo, o processo, a tarefa que tem de ser executada pelo humano no ambiente fabril. É uma plataforma que congrega todos os serviços, funcionalidades, e que pode ser ajustada às especificidades de cada tipo de indústria. Desenvolvemos um software que permite depois a cada empresa desenvolver os seus próprios procedimentos em chão de fábrica”, prossegue Bruno Duarte.

“Fazer a manutenção numa fábrica de bolachas é completamente diferente de fazer uma manutenção numa fábrica de indústria pesada, como química, por exemplo. Portanto, o que nós construímos é esse backoffice, esse ambiente web, onde existe toda essa digitalização, onde se escreve tudo o que tem que ser feito, passo a passo, que contém manuais ou vídeos onde pode ser consultada toda a informação sobre o equipamento”, explica o CEO.

“Isso permite a cada cliente fazer a sua própria configuração.” “Depois de toda a configuração estar feita, os operadores de manutenção, inspecção, segurança e outros, têm aplicações nos telemóveis para aceder à informação e executar esses procedimentos que têm previamente configurados”, refere ainda. E são vários os clientes que solicitam este produto. Alguns mais ligados ao ambiente fabril, como a indústria automóvel, a produção de pasta de papel ou electrónica. E outros clientes, com activos muito complexos, como as empresas de energias renováveis ou as barragens que produzem energia hidroeléctrica.

A Glartek conta hoje com uma jovem equipa, de 33 colaboradores, e fechou o ano passado com um volume de negócios de cerca de um milhão de euros, números que têm sido de crescimento, realça Bruno Duarte.

A Glartek tem muitos clientes da região de Leiria e do resto do País, mas está a ganhar posição no mercado externo, com presença em Espanha e França. E no futuro, refere o CEO, o objectivo é continuar a replicar este produto noutras latitudes e em diferentes sectores de actividade.

Prémios internacionais como Novo Bauhaus Europeu ou o Selo de Excelência, atribuído pela União Europeia, que destaca os melhores projectos de inovação, são algumas das distinções obtidas pela Glartek, que também têm contribuído para promover o prestígio desta startup além fronteiras, nota o empresário.

Bruno Duarte revela ainda de que forma tem a empresa ultrapassado alguns dos constrangimentos que habitualmente se impõem em negócios com este. No que respeita à captação de recursos humanos qualificados, a estratégia da Glartek tem passado por procurar pessoas menos experientes, formando-as dentro de casa. “Por isso, na captação, existe alguma facilidade. No entanto, depois da nossa formação, esses recursos tornam-se muito experientes em tecnologias muito avançadas, como machine learning e realidade aumentada, e conhecimentos deste tipo podem dar um grande impulso na carreira profissional destas pessoas. E, nesse momento, torna-se mais difícil retê-las, porque podem inclusive sair para ambientes internacionais, onde se torna mais difícil para nós competir”.

Quanto ao capital disponível para financiar os trabalhos da Glartek, “estamos a seguir um modelo de startup e tivemos um financiamento, em 2019, por parte de três fundos”. E, “ao longo dos últimos 3 ou 4 anos, temos cooperado muito com universidades em projectos de investigação e desenvolvimento”, prossegue o CEO.

“E como nós trabalhamos com muitas empresas de grande dimensão, estas são mais propícias a testar tecnologias inovadoras, projectos-piloto, porque estão sempre a procurar soluções para serem mais eficientes ou mais seguras”, sublinha Bruno Duarte. “Para uma fábrica que produza peças automóveis, se conseguir aumentar a eficiência dos colaboradores ou as linhas de produção em 1%, é um passo gigante. E por isso apostam muito em projectos de inovação que lhe dêem esse impacto gigante no seu negócio, num contexto piloto e menos exposto ao risco”, observa o CEO da empresa de Leiria.