Missão Ucrânia

Evgeniy foi de Leiria à Ucrânia buscar a mulher e a filha, Maksym resgatou a mãe. "Agora o meu coração está feliz"

7 mar 2022 13:45

A missão de Leiria na fronteira com a Hungria permitiu o reencontro entre familiares ucranianos antes separados por milhares de quilómetros

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Evgeniy estava há mais de um mês sem ver a filha, Anyna, de dois anos de idade, e a mulher, Alyona
Ricardo Graça

Este é o momento, o único momento desejado por Evgeniy durante três dias a conduzir pela Europa. O reencontro acontece no centro de apoio a refugiados em Tiszabecs, Hungria, na fronteira com a Ucrânia. Evgeniy estava há mais de um mês sem ver a filha, Anyna, de dois anos de idade, e a mulher, Alyona, que permaneceram na Ucrânia.

Viajou de carro desde Leiria, atravessou Portugal, Espanha, França, Itália, Eslovénia e Hungria, 3.300 quilómetros na estrada, mais de 40 horas praticamente sem dormir para finalmente retirar quem mais ama da zona de perigo. A recompensa é o instante em que o homem discreto e silencioso se transfigura e parece, literalmente, o homem mais feliz do mundo, num abraço a três da família mais feliz do mundo.



Em Portugal apenas desde Fevereiro, está de coração cheio com a solidariedade do país que o acolhe e ajuda: "Obrigado".

Há lágrimas, claro. Eles e elas choram felicidade. Soa a lugar comum e é um lugar comum, mas é preciso escrevê-lo porque aqui neste corredor de escola que é agora temporariamente um corredor do centro de apoio e acolhimento de refugiados em Tiszabecs também se encontra a violência e a guerra. Famílias separadas, mulheres e crianças que deixam tudo para trás, maridos e pais incluídos, um país que no meio da resistência se desvanece nas fronteiras com a União Europeia, por onde já escaparam mais de milhão e meio de pessoas.

Com Evgeniy Antonov, está Maksym Fedin. Vem buscar a mãe, a cunhada, a sobrinha (de dois anos) e uma amiga. Depois de saber que a comunidade ucraniana em Leiria precisava de um motorista, ofereceu-se para integrar a caravana de ajuda humanitária accionada pela Câmara Municipal de Leiria (com médica e bombeiros leirienses e um voluntário de Évora) em conjunto com a população imigrante no concelho. Com ele trouxe Evgeniy, seguem em carros diferentes, na missão que o JORNAL DE LEIRIA acompanha desde a primeira hora, entre Leiria e Tiszabecs.

"Agora o meu coração já está feliz", desabafa Maksym Fedin.

No grupo para Leiria vão ao todo 21 refugiados (mulheres, crianças e jovens). E uma outra cidadã ucraniana que se dirige para Itália. Viajam em cinco carrinhas, duas delas com despesas de combustível e portagens custeadas pelo Grupo Movicortes, detentor do JORNAL DE LEIRIA, e pela Matcerâmica, empresa de louça com instalações em São Mamede, Batalha.

Esperaram durante dias no lado ucraniano, com contactos regulares entre os voluntários ucranianos na Ucrânia, os voluntários ucranianos em Leiria e os condutores ucranianos que seguem na caravana SOS Ucrânia (o terceiro é Dmytro Kovalchynskiy).

Acabaram por ser recolhidos esta manhã em Tiszabecs, pelas 08:00 horas, hora portuguesa, já depois de atravessarem a fronteira e entrarem na Hungria.

Vêm de Kiev, Slovyansk, Dnipro e de outras cidades castigadas pela ofensiva russa.

Desde o Donbas, no leste da Ucrânia, a família de Maksym viajou num comboio de refugiados para perto da fronteira com a Hungria.

De noite, a composição parou na linha férrea, luzes apagadas, uma hora em silêncio, para evitar os aviões russos que àquela hora patrulhavam a zona. "Muito, muito medo", descreve Maksym. A cidade de que são originários também já está sob bombardeamento.

Além do apoio da Câmara de Leiria, a boa organização da comunidade ucraniana em Leiria e a articulação desta com os voluntários na Ucrânia, facilitada pela existência entre eles de relações de família e de amizade, revelou-se essencial para o sucesso da iniciativa.

A maioria dos 21 refugiados nesta primeira missão SOS Ucrânia tem familiares ou amigos em Leiria. E o alojamento para quem não tem está a ser assegurado, mais uma vez com o auxílio do município.

O camião que saiu de Leiria na quinta-feira também chegou à fronteira com a Ucrânia esta manhã, pelas 6 horas portuguesas, carregado com ajuda humanitária para distribuir pelos refugiados. Transportou 20 toneladas de bens para uma associação ucraniana, angariados na campanha SOS Ucrânia do Município de Leiria em parceria com a comunidade ucraniana do concelho, com pontos de recolha nos quartéis de bombeiros e no estádio municipal. Bens doados por particulares e empresas: 32 caixas de artigos de higiene, 394 de roupa térmica, 138 de bens alimentares, 47 de artigos de saúde e 17 de acessórios. Missão cumprida.

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