Sociedade

Crianças e artistas juntos para transformar a Quinta do Alçada

28 fev 2019 00:00

Arte pela inclusão social no projecto Sob o Mesmo Céu, que reforça a intervenção da InPulsar no bairro de todas as nações.

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Liberdade, igualdade, criatividade. Uma revolução em marcha na Quinta do Alçada, com 40 crianças e jovens residentes naquele que é provavelmente o bairro mais multicultural de Leiria a unirem forças com artistas plásticos e do audiovisual, músicos, designers e arquitectos. 

Ao longo de três anos, até Dezembro de 2021, as práticas artísticas estão ao serviço da inclusão social, para desencadear a mudança, no contexto do projectoSob o Mesmo Céu, que é dinamizado pela associação InPulsar e tem o apoio do JORNAL DE LEIRIA. 

A população alvo, entre os 7 e os 15 anos de idade, inclui filhos de portugueses mas também de famílias com origens em Marrocos, países africanos de expressão lusófona, Brasil e antigas repúblicas soviéticas como a Ucrânia. Vão trabalhar com os colectivos Casota (audiovisual), Uivo (artes plásticas) e Til (arquitectura e design), com o propósito, entre outros, de criar uma rota de arte em espaço público, com 10 instalações, no território onde vivem, que faz parte da União de Freguesias de Marrazes e Barosa. 

Cuidar das pessoas, melhorar a paisagem urbana, eliminar preconceitos, fomentar o sentido de comunidade e o diálogo entre diferentes nacionalidades e culturas são alguns dos objectivos apresentados publicamente no último sábado, 23 de Fevereiro. 

Com coordenação de Tânia Marques e direcção artística de Gui Garrido, o projecto Sob o Mesmo Céutem financiamento da Fundação Gulbenkian, através do programa Partis. E vem reforçar a intervenção da InPulsar na Quinta do Alçada, iniciada em 2016 com o projecto Redes na Quint@. 

Primeiro passo, "escutar, deixar sonhar", explica Gui Garrido. Dar voz, empoderar, construir em conjunto. Ou seja, o que aí vem "tem muito a ver com a viagem, tem muito a ver com o processo, e obviamente tem a ver com o legado que vai ser deixado, seja ele material, seja ele património emocional, intelectual, social". Está já agendada uma apresentação durante o festival A Porta, porque através da arte a InPulsar quer levar o bairro a Leiria e atrair Leiria ao bairro. Ir além das fronteiras da Quinta do Alçada, estabelecer pontes com o exterior, derrubar muros invisíveis. 

No desenvolvimento de competências socioemocionais, o Sob o Mesmo Céu conta com a parceria da Escola das Emoções, enquanto os laços intergeracionais, a juntar os mais novos aos mais velhos, passam pela colaboração com a Amitei. Tânia Marques explica que o projecto pretende "desconstruir ideias preconcebidas", "mitos" e "representações negativas" aos olhos de quem vive fora do bairro, mas também fomentar o "sentimento de pertença" e "trabalhar questões comunitárias" junto de quem habita a Quinta do Alçada. 

No diagnóstico da InPulsar, a multiculturalidade é a maior potencialidade daquele território.
 

Diagnóstico: Várias origens, muitos desafios 
De acordo com a associação InPulsar, na urbanização Quinta do Alçada vivem 794 pessoas, das quais 300 – ou seja, mais de um terço – com idades compreendidas entre os 5 e os 24 anos. Num território descaracterizado do ponto de vista arquitectónico, Marrocos, Brasil, Ucrânia e Angola são os países mais representados no universo de descendentes de imigrantes. O diagnóstico descreve um contexto social "desfavorecido, predominantemente multicultural, com problemáticas associadas à pobreza, baixa escolaridade e baixas competências profissionais e parentais". Está também identificado "um grave problema de desocupação das crianças e jovens nos períodos pós-lectivos e de férias", o que, no entender da InPulsar, "favorece a adopção de comportamentos desviantes, de consumos e actos de indisciplina e violência". O acesso às tecnologias de informação e comunicação é reduzido: 75% das famílias acompanhadas pela associação não têm computador em casa. Entre a população imigrante, as barreiras linguísticas são uma realidade. Afectam sobretudo as mulheres marroquinas, muitas vezes com influência na relação com a escola e outros serviços públicos.