Economia

Arnaldo Matos: “A qualidade de vida não se mede pelos automóveis”

7 out 2021 12:00

Aos 83 anos, o empresário da Marinha Grande despede-se do activo. Em jeito de balanço, fala sobre a sua cidade e sobre a indústria de moldes

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Arnaldo Matos, empresário
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Ao cabo de 70 anos dedicados à indústria de moldes, anunciou que deixa em definitivo a vida activa. O que motivou esta decisão?
A minha idade. E também porque a empresa Topo atravessava dificuldades. Tinha clientes com dívidas. Foi uma conjugação de motivos.

Qual foi o segredo de tamanha longevidade na carreira profissional?
Até estou a passar um mau bocado por falta dessa rotina de trabalho. Gosto muito da profissão. Fui gravador de moldes. Comecei a trabalhar quando tinha cerca de 12 anos. Quando acabei o curso na Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande, tinha 19 anos, o meu tio Edilásio promoveu-me a encarregado. Meteu-me de tudo à disposição para trabalhar na gravação. Portanto, ganhei grandes condições para trabalhar. E eu também era muito produtivo.

Que legado deixa à história industrial da Marinha Grande?
A Molde Matos, a Plimat, a Matosplás e a Plimex, projectos onde fui co-fundador. Também o facto de ter liderado a Cefamol durante 22 anos, entre presidência e vice-presidência. E acho que fui um bom professor, um bom mestre de serralharia de moldes. Assim como nos projectos. Acho que nos moldes estive bem no início e no fim. Fui guarda-redes e ponta-de-lança.

Qual foi o projecto que mais prazer de lhe deu fazer?
O projecto maior que fiz foi a Plimat, que resultou da Molde Matos. Por tudo aquilo em que ela se tornou.

Tem passado os últimos anos entre Marinha Grande, Alcobaça e Cascais. Continua a ter a cidade da Marinha Grande como a sua casa?
Gosto mais da cultura de Alcobaça. A Marinha Grande tem mais ou menos a idade dos Estados Unidos. Surgiu depois do grande terramoto de Lisboa. Alcobaça tem cerca de 800 anos. E a Marinha Grande é uma mistura de gente que vem de todo o lado, que se mudou em busca de emprego. O problema é que, também fruto dessa mistura, isto nunca teve bases culturais que sustentassem a cabeça das pessoas. A minha casa é Timor, onde estive dois anos durante a Guerra Colonial. Parti a 24 de Fevereiro de 1962 e regressei a 25 de Junho de 1964. Foi uma pequena passagem na minha vida, mas tempo suficiente para apreciar os valores, a cultura primitiva de Timor. Era na sua origem uma sociedade matriarcal. Alguns entendiam que aquilo estava muito ligado aos portugueses. É verdade, mas só em certa parte. Havia uma mistura entre o catolicismo e a maneira primitiva de os timorenses verem um Deus. Para os timorenses não havia propriamente um Deus. Havia a admiração por uma grande árvore ou por um homem muito bom. Casei-me cá e meses depois fui para Timor, onde fui segundo-sargento miliciano. Foi lá que ofereci o meu fato de casamento ao mainato [empregado doméstico]. Na actividade militar só precisávamos de camuflados. Para o bem e para o mal, Timor teve grande influência em mim. Talvez por essa minha experiência, nunca dei grande importância ao dinheiro.

E que diferenças encontra na Marinha Grande de hoje e na terra que o viu nascer há 83 anos?
Do ponto de vista tecnológico, esta é talvez a cidade mais digital do País. Tem uma cultura hoje mais moderna. Mas é pior, do ponto de vista humano. Do ponto de vista tecnológico teve grande crescimento. E t

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