Sociedade

005 - Licença para estudar em terra de Sua Majestade

11 jan 2018 00:00

São cinco. Fizeram 18 anos há pouco e já vivem sozinhos num país distinto. Uns consideram que o curso que escolheram é melhor em Inglaterra e outros entendem que as oportunidades de trabalho depois da formação são bem maiores por lá.

Francisco Caçador
Maria João Saraiva
Maria João Saraiva
Maria João Saraiva
Fábio Lopes
Fábio Lopes
Fábio Lopes
Carolina Amado Pereira
Carolina Amado Pereira
Carolina Amado Pereira
Rodrigo Fernandes
Rodrigo Fernandes
Rodrigo Fernandes

Motivados pela experiência de um mundo novo, à procura de alcançar os seus objectivos e garantir a melhor formação na área que escolheram para seu futuro, vários jovens rumam todos os anos para diferentes países para prosseguirem os estudos superiores.

Inglaterra é um dos destinos que lidera as escolhas dos jovens portugueses e os leirienses não fogem à regra. O JORNAL DE LEIRIA falou com cinco estudantes caloiros em terras de Sua Majestade e foi perceber as suas motivações e as dificuldades sentidas a cerca de 2100 quilómetros de distância.

Saudades do “meu Portugal”
Maria João Saraiva está a tirar a licenciatura em Make-Up and Hair Design, com duração de três anos, na Universidade de Southampton Solent. “Decidi estudar fora não só pelas imensas oportunidades de trabalho que terei depois do curso, mas também pela mentalidade das pessoas, especialmente em Inglaterra. Têm a mente muito aberta e são muito mais interessadas por arte do que sucede em Portugal (o meu curso segue a vertente artística)”, confessa.

A jovem, apaixonada por caracterização, acrescenta que desde pequena teve a intenção de estudar fora. “Assim que descobri o ramo que queria seguir, o da maquilhagem e indústria criativa, fez ainda mais sentido a ideia de sair”, já que esta área não é muito explorada em Portugal, “nem algo a que as pessoas dêem muita importância, pois é visto como algo sem qualquer base académica”.

A viver num quarto em casa de um professor reformado paquistanês que a trata “como uma filha”, Maria João Saraiva admite que a “adaptação foi muito difícil”, não tendo ajudado o facto da decisão final da universidade ter sido feita “muito em cima da hora”.

“Mas assim que comecei a conhecer pessoas que tinham o mesmo interesse que eu, o da maquilhagem, tudo se tornou muito mais fácil e agradável”.

Antes de partir para terras de Sua Majestade, a estudante não se considerava “uma pessoa apegada a nada”. “Mas isso foi só até ir embora. Posta à prova, acabei por perceber que sou uma pessoa muito apegada ao meu Portugal. O que mais me custa é viver longe dos meus pais. É de quem sinto mais saudades, mas tento distrair-me ao máximo para não pensar nisso.”

Está a adorar o curso. “Temos não só aulas práticas como também partes mais académicas. Fazemos imensa pesquisa sobre movimentos de arte e artistas que influenciaram o mundo da maquilhagem. O curso está muito bem organizado de forma a que o nosso conhecimento não seja só o básico. Por estranho que pareça, do que mais gosto são os professores, pois podemos considerá-los como autênticos artistas.”

Segundo Maria João, “tudo conta nas aulas” e qualquer pensamento “é de alguma maneira válido para eles”. “Também nos pressionam muito para que possamos pensar fora dos ideais estipulados, o que acho fantástico.”

Um dos desafios está a ser a cadeira de fotografia. “Nunca trabalhei com luzes de estúdio e câmaras profissionais, mas por incrível que pareça está a ser uma das minhas cadeiras favoritas." O processo de ingresso foi “muito fácil”.

Maria João adianta que teve a ajuda da OK Estudante, o que foi “crucial na orientação de tudo o que estava relacionado com a candidatura”. “Acabei o secundário com média de 14 no curso de Artes, mas esta não foi muito importante para ditar a minha entrada na universidade. Em Inglaterra dão mais valor ao portfólio, ao teu trabalho prático, por isso, fiz questão de me esmerar nesse aspecto. Mostrei vários trabalhos de maquilhagem que já tinha feito, incluindo profissionais com quem já trabalhei.”

Para Maria João, a grande diferença entre Portugal e Inglaterra são “sem dúvida” as pessoas. “Sempre soube que éramos um povo caloroso, mas foi em Inglaterra que percebi o quão diferente os povos são. Os ingleses não são antipáticos, simplesmente gostam do seu espaço um bocadinho mais que nós. Outro aspecto é também a comida. Enquanto nós, portugueses, adoramos cozinhar e temos uma gastronomia muito própria os ingleses vivem das comidas pré-feique comem.”

A jovem admite manter-se em Inglaterra depois do curso, apesar de ainda se estar a habituar ao ligeiro “choque de culturas”. O seu objectivo é “trabalhar para marcas, a criar 'looks' e a inovar no que toca ao mundo da beleza”.

“Não é algo fácil de atingir mas acho que para alguém como eu que necessita de estar sempre a criar novas coisas, é o melhor caminho.”

Investigação no topo das prioridades
“Estudar fora foi sempre um sonho e quando chegou a hora de escolher descobri que com o curso que queria não só teria mais oportunidades de emprego em Inglaterra, mas também porque o tipo de ensino era mais eficiente e objectivo comparativamente com o de Portugal”, revela Carolina Amado Pereira, caloira da Universidade de Coventry.

Para entrar candidatou-se a cinco universidades, cujas médias diferem em cada instituição, e teve de realizar um exame de inglês e uma entrevista. A estudante considera que o curso de Ciências Biomédicas “é muito mais teórico em Portugal”, enquanto em Inglaterra, é “tudo muito mais prático, com sessões laboratoriais todas as semanas, trabalhos de pesquisa científica...”

“Enfim, preparam-nos para o mercado de trabalho desde o primeiro dia.” Inicialmente, a adaptação foi também “um bocado difícil”, uma vez que se assume como uma “pessoa muito ligada à família e amigos”.

Com o passar do tempo as coisas tornaram-se mais fáceis: “o ambiente da universidade é excelente, existem vários alunos internacionais que se encontram na mesma situação e demo-nos bem logo ao início”.

A jovem está a viver numa residência de estudantes. “Os quatro colegas ingleses são espectaculares e há sempre aquele fascínio de que estou a levar a cabo um projecto com que sonhava há algum tempo.” Para si, o mais difícil é mesmo estar longe da família. “Como vivemos numa aldeia global, graças às tecnologias esse obstáculo acaba por ser ligeiramente atenuado.”

O primeiro ano do curso está a ser “um bocado exigente, não só por ser um ano de adaptação, mas também porque as disciplinas são mais abrangentes”, assume, admitindo que teve possibilidade de “experimentar coisas incríveis”, que pensava só fazer no último ano. O que mais a está a apaixonar são as aulas laboratoriais.

Além da temperatura, Carolina Amado Pereira encontra diferenças na cultura e no método de ensino dos dois países. E quando finalizar a licenciatura, onde estará esta leiriense? “Vejo-me num hospital ou num centro de investigação, sem dúvida. A especialização será consoante o decorrer do curso.”

O sonho de estudar em Londres
Quando era pequeno brincava com a ideia de ir estudar para Londres, cidade por que tinha uma especial paixão, mesmo sem nunca ter visitado. Quando estava no 12.º ano, as contas às médias, as indefinições sobre se teria notas para Medicina ou se seria mesmo isso que queria começaram

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