Entrevista

Filipe Ribeiro: “É o segundo ano consecutivo que temos quebras na ordem dos 60% na produção de pêra rocha”

23 ago 2023 09:31

O presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha, desde o mês passado, terá um mandato marcado pela procura de soluções para a quebra de produção decorrente das alterações no clima e busca de novas fontes de água

Filipe Ribeiro, presidente da Associação Nacional da Pera Rocha
Fotografia: Rui Miguel Pedrosa
Jacinto Silva Duro

Na semana passada, a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP) anunciou uma quebra de produção de 60%. Foi a seca dos dois últimos anos e as alterações climáticas?
Há um conjunto de circunstâncias. A pêra rocha tem alguma exigência de frio e aquilo que aconteceu nos últimos dois anos, foram Invernos muito amenos, com temperaturas altas. Houve, por isso, um impacto na floração, porque as árvores ficaram um pouco desreguladas. As reservas das pereiras diminuíram e o resultado foram florações com menos qualidade, e, depois, houve ainda problemas associados a essa falta de frio. É importante, no caso das fruteiras e da pêra, termos tempo frio, e depois, no período de floração, termos condições de Primavera boas e não um excesso de temperatura, como tivemos este ano. Há uma variabilidade climática muito grande, que nos está a colocar problemas novos, porque estamos num mercado global, e, ao termos menos produção - é o segundo ano em que temos quebras na ordem dos 60% -, isto coloca-nos problemas que não tínhamos antes. Normalmente, há um ano mais difícil e depois, no seguinte, a quebra é compensada. No entanto, pelo segundo ano, há uma quebra, ainda mais com estes últimos dias de calor que acrescentaram mais prejuízo ao que tínhamos. Vamos tentar que o preço compense a falta de produção, mas é praticamente impossível. O que vai acontecer é a produção ter prejuízo.

Qual é o impacto nos produtores mais pequenos?
Isso tem muito que ver com o nível de exposição de cada produtor. Em cada exploração, o produtor tem uma determinada quantidade de pêra, de maçã e de outras frutas. Vai ser mais difícil para os que estiverem mais expostos à pêra. A não ser que tenham uma reserva, e há pessoas que a têm, mas, quanto maior é a exploração, maior será a quebra e menos será o rendimento. Acredito que os pequenos, se calhar, até se conseguem aguentar e os grandes talvez consigam mitigar, porém, quanto maior a exploração, maior será o prejuízo.

A solução é diversificar?
A pêra rocha é a rainha da produção nacional. Para o produtor, uma das formas de mitigar é não pôr os ovos no mesmo cesto, como se costuma dizer, e estar menos exposto ao produto e ter outro tipo de cultura. A pêra rocha beneficia de uma marca colectiva reconhecida pelo cliente nacional e internacional e de um produto certificado, com dominação de origem. Pretendemos que o preço seja uma forma de compensar a quebra na produção. Não estou a falar de ondas inflacionárias, mas de, na cadeia de valor, haver alguma sensibilidade. Os supermercados, ao perceberem que há menos produto disponível, devem ter alguma abertura para ter menos margem no lucro, e, de alguma forma, compensar. É um produto promovido pela associação há 30 anos, foi o primeiro frutícola a ser exportado... 

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