Opinião

Viva o Sporting

25 mai 2021 15:00

Se não houver um surto da “variante leonina” devemos todos agradecer aos atletas e adeptos do Sporting. Porque para além do Campeonato, talvez nos tenham restituído a (verdadeira) liberdade

Se não fosse do Porto, era do Sporting. Sem espinhas.

No meu prédio, na Brandoa onde cresci, era tudo do Sporting. Da Juve (Leo). Pregaram-me mil e uma partidas: uma pedra dentro de uma bola vazia de catechu, “chuta aí ó Porto” e eu chutei com toda a força, quase que partia os dedos.

Mas nunca levei a mal. Os tempos eram outros. A “sensibilidade” das pessoas não era arma de arremesso, nem tudo era bullying, nem tudo era mau. As pedras eram só pedras, os paus eram só paus.

O Sporting foi campeão e as pessoas saíram à rua! Tem-me sido bastante complicado acompanhar o futebol. Sem público, a ouvir as “caralhadas” amplificadas pelo vazio dos estádios, as voltas das chuteiras, as caneladas ocas, o baque da bola nas tabelas publicitárias.

A Administração Interna foi empurrando com a barriga no seu vale-tudo de modernas mortes e escravaturas. A panela de pressão foi-se enchendo de vapor.

Nem uma alma nos estádios apesar das suas condições e arejamento, que pagámos tão caro nos idos de 2004. Nem uma voz, nem uma bandeira, nem um arzinho da graça da bola que é o povo.

E a panela a ferver, a apitar, até despejar na Praça do Marquês, nas imediações do Alvaláxia, perante, não a impunidade, mas a falta de qualquer tipo de planeamento.

E agora: é a nossa vez de aparecer, o tempo do treinador de bancada, do “comentador” pós-laboral, da PIDE/DGS que nunca se extinguiu de dentro de nós, a apontar, a dizer, a caluniar, a afirmar que são todos burros, e que é “uma vergonha”, antes de fazermos swipe para cima e ver uns decotes ou talvez umas pilas dentro das Calvin Klein, todos contra todos, como convém ao poder, a exigir responsabilidades, e testes Covid e rastreios impossíveis.

O Sporting foi campeão. Generosos, os seus adeptos foram para as ruas fazer o teste que realmente precisávamos, longe dos rodriguinhos da cultura, dos humoristas do Campo Pequeno.

Foi uma cena a sério. Gente sem máscara, a beber cerveja, aos abraços, a celebrar a comunhão que só o futebol, e não a Eurovisão, consegue. As pessoas a, finalmente, serem pessoas. A derrotar o medo.

Se não houver um surto da “variante leonina” devemos todos agradecer aos atletas e adeptos do Sporting. Porque para além do Campeonato, talvez nos tenham restituído a (verdadeira) liberdade.