Opinião

Vida madrasta

11 ago 2016 00:00

Em poucos segundos, a atleta leiriense, que tem adiado os estudos em Medicina em favor da sua carreira desportiva, viu esfumar-se o trabalho e o sacrifício de anos.

A vida é muitas vezes pouco justa. Todos os dias somos confrontados com notícias que provam isso mesmo, fazendo-nos questionar o porquê das coisas e a razão para que haja pessoas com tanto infortúnio.

Esta semana, por exemplo, todos sofremos com as imagens dantescas dos incêndios que, em minutos, transformaram em cinzas o trabalho de décadas e levaram consigo algumas vidas. Pessoas que apenas cometeram o 'pecado' de estar à hora errada no lugar errado.

Cujo único 'crime' foi viverem perto de um qualquer louco ou frustrado que retira prazer do mal alheio e regozija com o sofrimento dos outros. Ali, como em muitos outros pontos do globo, os podres da humanidade encarregam-se de somar sofrimento ao que a biologia, a natureza ou simplesmente o acaso já infligem com demasiada frequência. No fundo, chegando-se a este Mundo, o percurso de vida afigura-se como uma verdadeira incógnita, que só a lei das probabilidades consegue tornar um pouco mais clara. O inesperado está sempre à espreita, muitas vezes preparando-se para destruir os sonhos de uma vida e abalar o ânimo da alma mais perseverante.

Quem se der ao trabalho de tentar entrar na cabeça de Irina Rodrigues vai sentir isso mesmo. A atleta de Leiria que, após vários anos de treinos e muitos sacrifícios pessoais, estava a poucos dias de competir nos Jogos Olímpicos, a ambição de qualquer desportista, teve um acidente tão estúpido como improvável.

Bastou um piso com alguma humidade para Irina escorregar e deixar cair um peso na perna, fracturando o perónio. Em poucos segundos, a atleta leiriense, que tem adiado os estudos em Medicina em favor da sua carreira desportiva, viu esfumar-se o trabalho e o sacrifício de anos. Pior ainda, viu fugir-lhe um sonho pelo qual tanto lutou. Foi azar? Foi o destino? Foi Deus que assim quis? Foi, certamente, uma injustiça das grandes. Daquelas em que a vida é fértil e para as quais não encontramos explicações.

Claro que se pode puxar de uns lugares comuns e dizer a Irina que é a adversidade que torna as pessoas mais fortes, que haverá outras oportunidades ou que o que importa é estar bem com a sua consciência. Mas nada disso apagará a cicatriz que esta injustiça deixará para sempre. Resta-nos enviar o nosso apoio e solidariedade, na esperança que a atleta leiriense consiga ter a mesma força a reagir a este infortúnio como a que coloca ao lançar o disco.

A instabilidade continua a marcar a gestão da Câmara da Marinha Grande. Agora, está em causa uma revisão ao orçamento de 2016, que a oposição se prepara para chumbar, em principio, por não concordar com a proposta. No entanto, Aurélio Ferreira e Carlos Logrado, eleitos, respectivamente, pelos movimentos independentes MpM e + Concelho, admitem aprová-lo se dois membros do gabinete do presidente Paulo Vicente forem exonerados. É, no mínimo curioso, que a aprovação de um documento tão importante como o é um orçamento, possa estar dependente do rolar de duas cabeças. Estranha moeda de troca. É a política no seu melhor...

*Director