Opinião

Teorias rurais

28 ago 2022 21:45

Aceito que o planeta roda em torno de um eixo imaginário e que as estações estão em acelerada mudança

Aproveitando a recente vaga de frio que vem assolando o litoral Oeste – como sempre, em contra-ciclo com o resto do país – acabei entretido a lavar cestos.

Aos que me acusam de precoce velhice associada aos comentários climatéricos mensalmente explanados nesta coluna, gostava de os ver com metade do meu empreendedorismo.

Gostava ainda de os informar que: este país é para velhos.

Mas voltando aos cestos, interessa relatar que precisava de encaixar alguns sobrantes da época frugífera, muito concretamente uvas e figos, que espero ainda secar e daí obter algum rendimento no período de Natal que se aproxima a passos largos.

Mas, como sabem, tudo isto é extremamente complexo.

Os pingos de chuva, que entretanto caíram, cuidaram de apodrecer as nozes que já tinha deitado na eira.

Ainda acelerei a caminho de casa, ao receber o alerta de um colega da Guia, mas o pandemónio de trânsito gerado com o show de Toy no estádio semi-olímpico de Leiria impediu-me de chegar atempadamente à eira, entretanto já alagada, assim como as nozes.

Foi este o motivo que me levou a cambiar os meus planos e partir para o tratamento dos cestos, aproveitando a disponibilidade de água gratuita.

Notem que o bom Lena, onde me costumava banhar no século passado, deixou entretanto de correr (imitando aqui os menos discretos Reno, Pó, ou Loire).

Aceito que o planeta roda em torno de um eixo imaginário e que as estações estão em acelerada mudança, como garante o provérbio, “Verão com chuva na eira, o sol está disfuncional”.

Mas, ainda assim, decidi dar instruções à minha equipa jurídica para procurar forma de me indemnizar pelos danos gerados por este triste espetáculo, em valores nunca inferiores a quinhentos euros.

Estou muito otimista relativamente a esta nova litigância, e certo que boa prenda me cairá no sapatinho lá para o final do ano.

Já dizia o poeta de Lisboa no seu mágico verso, “litigar é preciso, viver, não é preciso.”

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990