Opinião

Respostas concretas

2 jun 2016 00:00

Quem em Portugal, com a pressão fiscal brutal que suga parte da riqueza, não sonha em colocar o seu dinheiro a salvo de um fisco amoral?

Jorge Luís Borges dizia que não era suficiente que as coisas fossem verdadeiras. Necessitavam de ser verosímeis. Os Papéis do Panamá são um canal com vista para um mundo paralelo que ninguém desconhecia, mas que todos contornavam. Verdadeiro e verosímil. Mas os Papéis do Panamá são uma pequena parte de deep web da internet do dinheiro escondido e reciclado: um mundo paralelo quem nem Júlio Verde nas suas vinte léguas submarinas descobriria.

Mostra que, entre dinheiro de acções legais e de ilegalidades várias, há um desejo de fugir aos impostos. E esse começa por ser o centro do debate que as offshores propiciam: elas põem em causa os princípios do contrato social, de troca por serviços públicos e pela representação democrática.

A fuga de capitais e lucros aos impostos (hoje visível na arrogância de empresas como a Google, o Facebook ou a Amazon) é uma das faces desta terra de ninguém em que se tornou a globalização financeira. Por outro lado, a pressão fiscal incentiva empresas e pessoas comuns a tentar iludir a teia da lei. Quem em Portugal, com a pressão fiscal brutal que suga parte da riqueza, não sonha em colocar o seu dinheiro a salvo de um fisco amoral?

*Jornalista