Opinião

Quadrado

22 mar 2022 15:45

Para se saber para onde se vai é preciso saber de onde se vem

Podíamos viver num quadrado apenas. Dedicados a descobrir os quatro cantos de um mapa onde escolhemos habitar.

Assim, se partirmos de um centro estabelecido, demoramos mais tempo a chegar ao vértice do que à aresta, mas se encontrarmos esse canto e percorrermos o limite do espaço que ocupamos, demoraremos o menor tempo a alcançar o vértice seguinte.

E talvez nunca voltemos a esse centro que estabelecemos como origem do caminho.

A ligação de um espaço com a sua comunidade exige rotas e trajectos. Conhecer bem os cantos da casa e saber como nos relacionar com os outros.

Na programação do ciclo anual com que o Serra - Espaço Cultural habita parte do calendário do Museu de Leiria queremos evidenciar essa relação.

No cartaz e imagem gráfica exploro os diferentes caminhos físicos, pela estrada e pelo rio, mas também os trajectos imaginados, através de grelhas e parábolas. É um percurso que se faz graficamente mas também ao longo do ano. 

Sabendo que iriam ser quatro momentos trimestrais, onde há sempre uma exposição, conversa e oficina, procuramos cruzar e envolver o território, as comunidades e a imaginação.

Daí que antecedendo cada conversa organizamos um percurso que fazemos com os convidados até ao Serra, para almoçar, e voltar.

O primeiro foi de carrinha de nove lugares, o segundo de bicicleta, o terceiro será provavelmente a pé e o último percurso será pelo rio, se for possível.

Para se saber para onde se vai é preciso saber de onde se vem.

Sabemos que já foi o lugar do nascimento de bandas como os Silence 4 ou o atelier do João dos Santos, mas também lugar de ensaio, gravação e criação artística de uma comunidade jovem de criadores que procuram um espaço onde podem ter as condições necessárias a desenvolver a sua prática, que em Leiria é difícil de encontrar. 

Assim o Serra – Espaço Cultural é também um lugar onde se desenha um mapa que liga as Cortes e Leiria ao país e ao mundo, através de residências artísticas na Casa das Artes José Ribeiro Vieira, das vivências dos residentes e da ideia de nos darmos com outros que não os do nosso quadrado.