Opinião
País de racistas
Foi preciso surgir um partido de extrema-direita mainstream no nosso país para que os amordaçados deixassem de ter vergonha e saíssem das suas cavernas
Portugal está, de momento, irrespirável. E o problema tem vindo a degradar-se de dia para dia. Atualmente, qualquer publicação relacionada com uma eventual demonstração de solidariedade, empatia ou apoio, por exemplo, com a causa Palestiniana, ou com as comunidades imigrantes não brancas, são alvo de ataques vis e sem contemplações. Aliás, bastaria que o JORNAL DE LEIRIA partilhasse este texto nas suas redes sociais para vermos a gente de garras afiadas, sem qualquer tento na língua e sem quaisquer tipos de argumentos articulados ou honestamente fundamentados, que lá se iria juntar para destilar... ódio! Tudo, por não estarem de acordo nem gostarem do que aqui vão ler: Portugal é um país com uma percentagem altíssima de pessoas racistas. Sempre foi. Aliás, a nossa história é pródiga nessa matéria e fala por si.
Porém, as mudanças políticas e sociais que o país conseguiu implementar após o 25 de Abril, conferiram-nos uma sensação de civilidade que nos acompanhou durante algumas décadas, dando-nos a percepção de que a nossa sociedade era progressista e cada vez mais tolerante. Foi nessa mesma sociedade que cresci e foi nela também, e com a educação que os meus pais me deram, que moldei os meus valores éticos e morais, dos quais muito me orgulho, e com os quais tenho regido a minha maneira de estar na vida. E como eu, felizmente, tantos e tantos outros!
Mas não todos... Afinal havia muita gente camuflada e foi preciso surgir no país um partido de extrema-direita mainstream, para que essas bafientas criaturas deixassem de ter vergonha, saíssem das suas cavernas, de peito feito e cara descoberta, e mostrassem, sem pudor, o âmago pútrido que lhes reina. Não é de admirar: não esqueçamos que em 2007, ainda antes de Venturas e companhias emergirem, já o país dos "brandos costumes" elegera Salazar como o "maior português de sempre". Mais palavras para quê? Somos o que merecemos ser: pouco, muito pouco. Qualquer dia, olhamos para a nossa bandeira e sentimos repulsa; ouvimos o nosso hino e ficamos nauseados. Há muito que ambos foram apropriados pelos nacionalistas patrioteiros racistas que nos criam asco e causam uma urticária insuportável.
Os sinais de racismo endémico do nosso povo revelam-se até nos que julgam não ser racistas: quando alguém diz "Eu não sou racista, mas…", o que vem depois do "mas" costuma ser precisamente o que a pessoa tenta negar. Esse "mas" é um sinal de alerta que revela o grau de preconceito inconsciente que vigora e que é erradamente legitimado por (quase) todos. Em Portugal o racismo (mesmo o manifestado online) é um crime que pode dar prisão até 8 anos, mas é natural que num país de racistas como o nosso esta lei raramente se aplique. Deste lado, porém, com os intolerantes, intolerantes continuaremos a ser!´
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990