Opinião
Mais empatia, melhor humanidade
Quando nos desligamos da dor alheia, abrimos espaço para o retrocesso, para o autoritarismo
Vivemos tempos sombrios, marcados por uma crescente falta de empatia que ameaça os alicerces da convivência humana. A ascensão da extrema-direita em Portugal, como em tantas outras partes do mundo, revela uma sociedade cada vez mais dividida, onde o medo, o ódio e o preconceito ganham terreno sobre a compreensão, a solidariedade e o diálogo.
É triste (e ridiculamente absurdo) constatarmos que hoje, quem defende o mais vulnerável, o mais necessitado, o que tenta integrar em vez de expulsar, o que cuida em vez de desprezar, é automaticamente considerado de extrema-esquerda.
Portugal era muito menos polarizado e mais respirável antes do aparecimento do partido Chega que, como se não bastasse, tem vindo a moralizar o aparecimento de movimentos nacionalistas e fascistas perigosos e absolutamente desprezíveis.
Ao mesmo tempo, guerras brutais como as da Ucrânia e da Palestina expõem diariamente a desumanização do “outro”, a indiferença perante o sofrimento e a incapacidade de resolver conflitos com base na justiça e no respeito mútuo.
O mundo parece recuar, esquecendo conquistas civilizacionais que exigiram séculos de luta: os direitos humanos, a liberdade de expressão, a igualdade, a paz. Torna-se, pois, urgente relembrar que empatia não é fraqueza, mas sim o que nos torna verdadeiramente humanos.
É essa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro que impede que a barbárie se normalize, que a indiferença se instale, que a violência seja banalizada, que o racismo impere. Quando nos desligamos da dor alheia, abrimos espaço para o retrocesso, para o autoritarismo, para o colapso do que nos une enquanto sociedade.
É neste contexto que a XIV edição do festival gótico Extramuralhas embandeira um lema que é imperioso abraçar sem medo, dando um sinal claro de que lado está: “Mais empatia, melhor humanidade”. O lema em questão não é apenas um apelo poético; é sobretudo um grito de resistência contra a frieza que se tem vindo a propagar como uma praga contagiosa.
Que a música, a arte e o encontro fraternal entre pessoas de todos os credos e cores, sirvam como antídoto ao cinismo vigente, e que sejam um chama viva de esperança por um mundo mais justo, livre e verdadeiramente humano.