Editorial

Onde estamos a falhar?

31 jul 2025 08:01

É desolador continuarmos a assistir a um elevado número de fogos causados por mão criminosa

Todos os anos, quando entramos no Verão e as temperaturas começam a subir, voltamos a enfrentar o velho e temido flagelo: os incêndios florestais. A cada vaga de calor, junta-se uma onda de preocupação, perante o cenário desolador que nos é servido a toda a hora e em directo, pelas incansáveis reportagens televisivas.

À hora a que escrevíamos este texto, eram os fogos no norte do País que mais ansiedade provocavam. O habitual. Milhares de bombeiros no terreno, dezenas de meios aéreos a sobrevoar as chamas, populações em desespero, perante a proximidade do ‘inferno’. Os principais inimigos do combate? Os mesmos de sempre. Difíceis acessos, ventos fortes, mudanças repentinas da direcção do vento, e, ainda com lamentável frequência, falta de limpeza e de ordenamento florestal.

Mas ainda mais desolador é o facto de continuarmos a assistir a um elevado número de fogos causados por mão criminosa. Como vos demos a conhecer no início do mês, com base no relatório anual do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, em 2024, o incendiarismo foi responsável por 75% da área ardida na região Centro.

Esta semana, a Polícia Judiciária anunciou mais uma detenção: a de um jovem, de 22 anos, suspeito de atear dois fogos florestais, no concelho de Pedrogão Grande, o mesmo que ficou na memória colectiva do País, depois da tragédia que ali se viveu em 2017.

“Em ambos os incêndios, o suspeito utilizou chama directa, recorrendo a isqueiro e dirigindo a sua acção criminosa para uma mancha florestal de grandes dimensões, constituída por acácias, eucaliptos e pinheiros”, explicou a PJ, em comunicado.

Salvaguardando a presunção de inocência até trânsito em julgado deste processo, importa perguntar: que sociedade estamos a construir, se continuamos a permitir, ano após ano, que hectares de floresta, casas, vidas humanas e até animais paguem o preço de uma educação incompleta para o valor da nossa floresta?

Que sinais estamos a enviar às próximas gerações? Que sentido faz falar de sustentabilidade se não conseguimos sequer proteger o que temos de mais precioso?