Opinião

O peso da sabedoria?

2 set 2022 21:45

Umas gramas a mais, ou a menos, fazem diferença no todo que é o peso da sabedoria

E eis que chega mais um ano letivo.

A azáfama começou. Reunir todo o material necessário para iniciar mais um ano intenso de aquisição e partilha de conhecimento.

Os livros, os cadernos, os lápis, as canetas, as mochilas…

As mochilas… Quiçá uma boa aproximação ao que hoje poderia ser uma máquina de tortura dos tempos modernos.

Exagero? Seguramente que sim.

Mas sempre que vejo uma criança com uma mochila às costas não me consigo abstrair do facto de que carregam, na sua maioria, bem mais do que 10% do seu peso corporal.

E mais incomodada fico quando olho para um adolescente, porque esse continua a carregar muito peso, mas em total desequilíbrio postural, porque não é nada trendy e muito menos fashionable por as duas alças da mochila aos ombros, e menos ainda ajustadas às costas.

O assunto é tão sério, e subsiste desde há tantos anos, que não só está já contemplado no Plano Nacional de Saúde Escolar de 2015 da Direção Geral de Saúde, como em 2017 o Parlamento aprovou o projeto de resolução nº 1088/XIII, contendo 11 medidas para diminuir o peso das mochilas escolares.

Contudo, pouco ou nada terá sido feito desde então, ou se foi, ainda não chegou efetivamente aos nossos quotidianos.

Medidas como a produção de livros com papel de gramagem inferior, preconizada neste projeto, e num formato que permitisse a separação dos diferentes capítulos, para os alunos poderem levar para a escola apenas aqueles em que estavam a trabalhar em cada altura do ano, seriam muito relevantes.

Mas não estamos ainda aí.

Assim, e agora que as medidas higieno-sanitárias para resposta à Covid-19 estão mais tranquilas, seria muito pertinente que os professores permitissem e até incentivassem a partilha de manuais entre colegas de carteira.

“Um traz o livro de Inglês, o outro traz o livro de Português”, como acontecia antes nalgumas escolas.

E que confiante e confiadamente informassem quando é ou não necessário ao aluno efetivamente levar o livro para a escola.

Mas também não estamos ainda aí.

Ou melhor, podemos estar, dependendo das escolas, e dos professores.

Onde podemos, e devemos estar, é nas decisões de que somos diretamente responsáveis, e portanto aquelas que podemos diretamente influenciar: os materiais que compramos para os nossos filhos, os materiais que os deixamos levar nas mochilas e, tanto quanto as idades nos permitirem, a forma como os levam para as escolas.

São vários os materiais disponíveis nos mercados. Optemos pelos mais leves.

E melhor ainda, pelos mais práticos.

Um dossier com separadores, para levar para a escola apenas as folhas das disciplinas de cada dia, e não um caderno por disciplina, que tem que se carregar o ano todo, tendo uma folha escrita ou cem, é só um exemplo.

Quando se trata da saúde das nossas crianças e jovens, todas as pequenas coisas são grandes coisas. E umas gramas a mais, ou a menos, fazem diferença no todo que é o peso da sabedoria.

Saibamos pesá-lo bem! Bom ano letivo para todos!


Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990