Opinião

O mais barbudo do ano

26 nov 2022 16:53

O entusiasmo espatifou-se contra um facto que, em si, é a antítese do que as listas de melhores do ano tentam exaltar: a novidade

Chegam as últimas semanas do ano e, inevitavelmente, começo a pensar em listas. Melhores discos, melhores concertos, melhores livros, melhores séries, melhores filmes… Na verdade, acabam por ser mais as vezes que apenas penso nelas, do que aquelas que realmente as passo ao papel, mas este ano até estava entusiasmado.

Ouvi muitos discos, vi bastantes concertos, vi séries em barda, li alguns livros e até tinha em mente uma lista nova, porque (e atente-se bem no atraso de vida) 2022 foi finalmente o ano em que comecei a ouvir podcasts com regularidade diária. Digo “até estava entusiasmado”, porque o entusiasmo espatifou-se contra um facto que, em si, é a antítese do que as listas de melhores do ano tentam exaltar: a novidade.

Comecei a olhar para trás e, principalmente, a olhar para a música que mais me entusiasmou em disco e ao vivo e, tirando quatro ou cinco coisas, andei literalmente a olhar para trás. Até nas séries, uma hipotética lista do meu “melhor de 2022” teria de encaixar o regresso a “The Office” e a primeira vez de “Parks and Recreations”. Nada de muito actual, portanto.

Mas, voltando à música, o concerto mais barbudo (não leirienses, vão ao Google e escrevam dicionário leiriense para a definição de “barbudo”) que vi este ano foi o dos Pavement, em finais de Outubro, em Paris e na lista tenho também o dos Ride, em Barcelona ou, sem surpresas, o dos Belle & Sebastian em Vila Nova i La Geltrù.

Não sou um tipo saudosista, muito pelo contrário, mas tirando os Belle que lançaram o melhor disco do ano em 2022, nenhuma das outras bandas anda a apresentar música propriamente nova. E, qual cereja no topo do bolo, naquela lista em que pensei que ia mesmo ter novidades, o podcast que mais ouvi e que mais recomendo fervorosamente a toda a gente, não podia ser mais… clássico, vá.

Chama-se “1001 Album Complaints” e é um podcast em que músicos discutem semanalmente se determinado disco é merecedor de figurar naquela que é a lista das listas: “1001 discos para ouvir antes de morrer”, editado em livro por Robert Dimery. É tão bom, que se algum de vocês ainda quiser fazer uma qualquer lista de 2022, é melhor só começar a ouvi-lo em 2023. Eu já desisti.