Opinião

Ninguém dá o que não tem

28 jan 2016 00:00

Quem quer ser feliz não pode também querer ser perfeito. “A perfeição não tem fim” e causa enorme frustração naqueles que a perseguem.

"Estado de quem é feliz”. É esta a definição de felicidade que encontramos no Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora. Ventura, boa fortuna, bom êxito, contentamento são outras das palavras associadas ao termo. Se todos seremos mais ou menos unânimes quanto ao significado de felicidade, o mesmo não se passa quando se trata de apontar o que nos faz felizes.

A receita é diferente para cada pessoa, mas a perseguição da felicidade deve ser um objectivo comum a todos nós. Muitos esperam que a felicidade lhes caia no colo, sem perceberem que lhes cabe a si, em primeira instância, ir atrás dela.

Psicólogos e outros especialistas têm reafirmado que a felicidade é um estado, não uma condição. Não é algo que se obtenha hoje e esteja garantido para sempre. Precisa de ser cultivada, trabalhada. A partir do interior. Quando fazemos depender a nossa felicidade de factores externos, como bens materiais ou mesmo outras pessoas, estamos a desresponsabilizar-nos da própria vida. Estamos a abdicar do poder de escolher e de agir em conformidade, para alcançar a tão almejada felicidade.

Quem quer ser feliz não pode também querer ser perfeito. “A perfeição não tem fim” e causa enorme frustração naqueles que a perseguem. Nesta edição ouvimos José António Pereira da Silva, especialista em reumatologia que tem dedicado especial atenção ao estudo da dimensão psicológica da doença. Defende este médico que a felicidade deve ser a medida de valor de todas as coisas, pelo que não faz sentido correr atrás daquilo que não nos faz felizes. Mas por que são umas pessoas espontaneamente mais felizes do que outras?

A genética influencia em 50% a resposta. Nasce-se com maiores ou menores armas para ser feliz ou, pelo contrário, para ser mais preocupado, mais exigente. A família e a sociedade são outros factores da equação e influenciam bastante. Embora quimicamente mediada, a felicidade pode ser cultivada por actividades e actos que tendem a favorecê-la.

A Psicologia Positiva oferece-nos várias ferramentas para encararmos a vida de forma a sermos mais felizes. A generosidade e a gratidão são duas delas. Ajudam pessoas muito negativas, por norma “ressabiadas” e que se tornam “tóxicas” para quem as rodeia, a ver a vida com outros olhos. E a ser mais felizes. Porque, diz ainda Pereira da Silva, tal como a gripe a felicidade pega-se. Mas os nervos também.

Por isso, se pensa que é responsável pela felicidade dos outros pense melhor. Construa primeiro a sua. Porque ninguém pode dar o que não tem.