Opinião

Música | A arte e o ruído

1 out 2022 20:04

Parece existir uma tendência generalizada, da parte dos Municípios, para oferecer Arte e Entretenimento, a torto e a direito

Tem-se vindo a agudizar a discussão generalizada à volta do ruído, sonoro e visual, que tem assolado as comunidades um pouco por todo o lado. (Estou a escrever este texto e não me sai da cabeça aquela parada de motorizadas altamente poluentes na marginal da Praia do Pedrógão – uma coisa é o homem, ou a mulher, que precisa de um meio de transporte e ainda usa a sua antiga Macal ou Famel, outra coisa é um grupo de pessoas utilizar este tipo de veículos para uma passeata onde se divertem a fazer barulho e a poluir o ambiente). Adiante.

Parece existir uma tendência generalizada, da parte dos Municípios, para oferecer Arte e Entretenimento, a torto e a direito. Não sei se é bom, se é mau, apenas quero deixar aqui a reflexão. Será mesmo uma boa ideia ter espetáculos de grande dimensão no meio das cidades, no espaço público, gratuitos e de acesso livre? Ou pintar grandes murais em bairros periféricos, agora que a “Arte Urbana” está em alta?

Ando um pouco confuso com isto, confesso. E depois os museus e as salas de espetáculos, quem as frequenta pagando o respetivo bilhete?

Observo a nossa cidade de Leiria com grande atividade cultural e reparo na forte adesão da população aos eventos, de preferência ao ar livre e gratuitos. E quem diz Municípios, diz outras instituições ou entidades: veja-se o caso recente da União Desportiva de Leiria que tem organizado concertos para levar gente ao Estádio – até nos intervalos, há alguém a tocar, não vá a malta aborrecer-se com a bola e pôr-se na alheta.

Bem sei que a intensa atividade cultural (entretenimento?) traz dinheiro aos comerciantes, restauração, artistas, promotores, técnicos e tanta outra gente, mas não será festa a mais? E depois há a questão programática: num fim de semana temos o David Fonseca, no outro a Filarmonia das Beiras e ainda no outro uma banda pós-punk da Suíça – um fim de semana para gregos, outro para troianos, e assim sucessivamente.

Dizem-me: “assim há espaço para todos”, pois, menos para os que apenas querem passear pela cidade, beber um café na praça ou sentar num banco de jardim, tranquilamente, a ouvir os pardais e o rio, sem música e pirotecnia.

Como é que isto se resolve? Não sei . Mas vai na volta, já ninguém quer ouvir os pássaros, as águas do rio, as risadas da criançada a brincar ou o sacudir das folhas das árvores. Nem olhar para a arquitetura como ela é ou para os jardins com flores e ruas direitas… e ando eu aqui armado em poeta romântico do século XIX.