Opinião

Milagres

26 mai 2016 00:00

A lenda das rosas, uma habilidade da sua tia avó Santa Isabel da Hungria, ocupa um papel que pese embora a sua aparição tardia...

Bento Coelho pintou no último quartel do século XVII um óleo muito bonito intitulado Santa Isabel e o Milagre das Rosas de Alenquer que se abriga na Igreja Matriz de Salvaterra de Magos. Vale a pena olhar para ele com atenção e recordar esta história dos milagres, mesmo que a voo de pássaro. Sobretudo em Leiria. Morta em 1336 e beatificada 180 anos depois a pedido de D. Manuel I, Isabel de Aragão foi finalmente canonizada 289 anos depois do seu enterro. O Papa Urbano VIII foi em 1625 finalmente sensível aos argumentos da Coroa Castelhana e fez-se Santa Isabel. A festa foi feita em Madrid, mas não se pouparam esforços para animar um Portugal que bem precisava, incluindo transladação solene, missas, sermões, torneios poéticos e muitas festarolas.

As primeiras hagiografias da Rainha são todas posteriores em quase três séculos à sua morte, com excepção de uma biografia anónima do séc. XIV cujo original se perdeu. A lenda das rosas, uma habilidade da sua tia avó Santa Isabel da Hungria, ocupa um papel que pese embora a sua aparição tardia - o seu primeiro registo, de Fr. Marcos de Lisboa, data de 1562 - se tornou central no “imaginário popular”.

O milagre que tem múltiplas versões é este: a Rainha em Coimbra levando no regaço o dinheiro para pagar aos “oficiais de sua mão” topa com o Rei e para que ele não visse que ela se prestava a pagar o que devia em vez de mandar pagar “lhe disse que eram rosas, e querendo El- Rei vê-las, viu em flores tudo o que a Santa Rainha levava em moedas”. Diz Correia de Lacerda. Em 1680.

*Dramaturgo

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