Opinião

Memória em ruínas

1 jun 2017 00:00

Faz hoje precisamente 50 anos que o complexo de piscinas de S. Pedro de Moel foi inaugurado.

Há datas que nos trazem tempos passados à memória e nos fazem voltar a olhar para problemas que o passar dos dias vão fazendo cair no esquecimento, vão tornando invisíveis, mesmo que a sua dimensão física seja enorme e, aparentemente, impossível de passar despercebida.

É esse o caso do complexo de piscinas de S. Pedro de Moel, cujo encerramento e degradação deu azo a inúmeras conversas, mas que o passar do tempo foi fazendo esbater a tristeza e a contestação, sendo hoje, para a maioria das pessoas, apenas mais um elemento da paisagem.

Algo que está ali, e pronto! Hoje, no entanto, é impossível não regressar àquele espaço, que foi inaugurado com pompa e circunstância, que marcou a vivência de várias gerações de pessoas desta região e não só, que foi um dos principais ícones de S. Pedro de Moel e que foi palco de inúmeros eventos sociais das mais diversas naturezas.

A razão prende-se com o facto de fazer hoje precisamente 50 anos que o complexo de piscinas de S. Pedro de Moel foi inaugurado, uma obra que teve como principal mentor e mecenas o empresário José Nobre Marques e que mereceu as honras da presença do Presidente da República Américo Tomás para a sua inauguração.

No entanto, os sentimentos que mais rapidamente emergirão ao lembrarmo-nos daquele espaço, serão, certamente a tristeza e a indignação. Tristeza por se ver o estado em que está aquele enorme edifício, que encerra inúmeras memórias de momentos de diversão, de alegria e de prazer, onde se fizeram muitas amizades, onde se iniciaram relações que ainda perduram.

Indignação por haver toda aquela degradação sob uma praia belíssima e a manchar um dos mais bem conseguidos desenhos urbanos de todo o litoral português. É óbvio que mais cedo ou mais tarde haverá para ali uma solução, ou não se estivesse a falar de uma localização ultra-privilegiada numa praia bastante apetecida.

O problema é que o “mais cedo ou mais tarde” em Portugal representa, muita vezes, anos a perder de vista, um tempo enorme para quem todos os verões procura S. Pedro de Moel, mas também para os comerciantes e hoteleiros que dependem da sua atractividade.

Ou seja, apesar de o complexo de piscinas estar na mão de privados, os responsáveis políticos desta região, principalmente da Marinha Grande, e do Turismo do Centro, mas também os deputados eleitos por este distrito, teriam a obrigação de fazer algo para resolver aquela vergonha que se encontra ali à beira-mar plantada.

Não se percebe como é que num momento em que Portugal parece ser a grande moda no mundo do turismo, com esse sector a ser determinante para a recuperação económica nacional, se desperdiçam oportunidades para fazer desta região uma das carruagens do comboio.

Há 50 anos o complexo de piscina de S. Pedro de Moel surgiu por iniciativa de José Nobre Marques, que foi também o seu principal mecenas. Reza a história que essa decisão de José Nobre Marques surgiu em reposta à oferta do teatro que José Lúcio da Silva, seu sócio, fez à cidade de Leiria. Uma época, portanto, em que o mecenato era em Portugal mais do que uma mera palavra do dicionário.

*Director do Jornal de Leiria