Opinião

Letras | A Corte das Mulheres Uma história renascentista, II parte

17 out 2025 08:14

Época brilhante do Renascimento e da primeira libertação cultural das mulheres

E como “uma história” que é, lê-se como um romance. Vívido, animado criando no leitor o espanto de acontecimentos históricos, reais, desconhecidos, nunca antes contados. Rasurados da História? Assim parece. Mas resgatados pelo autor, André Canhoto Costa (ACC) pelo estudo aturado da época do Renascimento e influenciado pela leitura de A Infanta D. Maria de Portugal e suas Damas, de D. Carolina Michaelis, 1902.

São quatro os pontos fulcrais sobre que se apoia e expande a obra: a explosão dos livros renascentistas; a Infanta Dona Maria e a sua Corte de Mulheres escritoras; uma nova forma de olhar para o Amor; os jovens poetas com destaque para Camões, Sá de Miranda, Bernardim, Jorge Montemor.

E quatro são os capítulos que asseguram a narrativa entrelaçando entre si personagens da mais alta realeza europeia e escritores desde a Antiguidade até aos mais recentes humanistas. Que tanto nos dizem sobre as intrigas e as artimanhas das Cortes.

O Capítulo I cobre a disseminação do livro pela invenção da imprensa (séc. XV) que levou as mulheres da mais alta aristocracia a interessarem-se pela leitura e pela escrita dos seus próprios textos. Apresenta-nos uma plêiade de senhoras que organizam as suas bibliotecas. A moda vem da Itália e logo é aceite em Lisboa que, à época, era uma das capitais do mundo. A Infanta Dona Maria, filha de D. Manuel, sobrinha de Carlos V, criada sem pai nem mãe, na corte de D. João III, seu meio-irmão, educada pela latinista Joana Vaz, professora em Salamanca, senhora de uma fortuna incalculável, aos 16 tinha a sua casa no Palácio de Xabregas onde organizou a sua ampla biblioteca e se rodeou de mulheres leitoras, latinistas, como Luísa Sigeia, o prodígio intelectual da época, Públia Hortênsia, Paula Vicente, princesas (Juana de Áustria, a infeliz mãe de D. Sebastião), damas e aias, dando origem à chamada Corte das Mulheres, verdadeiro salão literário e de música. Na Biblioteca da Infanta liam-se manuscritos em latim, grego e nas línguas vulgares, livros de filosofia, autores da Antiguidade, os romances de Cavalaria – foi a libertação pelos livros. Nos seus serões brilhavam os e as poetas, dançava-se, fazia-se teatro, organizavam-se torneios.

O Capítulo III - O Jogo do Amor é o mais rico, o mais empolgante no que toca à elevação da mulher: Inspiradas pela Renascença italiana, elas debateram o amor, o desejo, as iguais capacidades do homem e da mulher, o poder virem a governar – como é posta a hipótese de ser a Infanta (depois de por várias vezes ter falhado o casamento com figuras de célebres como foi o caso de Felipe II) a reinar na vez do malogrado Sebastião. As festas, os bailes, as mascaradas, as encenações, os jogos jovens poetas: Camões.

É o Capitulo IV - Livros em Chamas que tristemente nos narra o fechamento desta época brilhante do Renascimento e da primeira libertação cultural das mulheres por força da brutal Inquisição e da cada vez mais poderosa Companhia de Jesus.