Opinião

Hora di bai de Manuel Ferreira

14 ago 2017 00:00

Publicada no ano de 1962, Hora di bai, obra de cariz neo-realista, recebeu o prémio Ricardo Malheiros e retrata a crua realidade da vida em Cabo Verde nos anos 40 do século passado – anos de seca prolongada, de fome, de miséria, de repressão.

A ação inicia-se na ilha de São Nicolau, no tempo da grande seca, 1943, com uma multidão de gente que espera entrar no veleiro «O Senhor das Areias» que os há de levar para a ilha de São Vicente, Soncente, onde esperam levar uma vida melhor. Dessa multidão apenas os que constam da lista de chamados poderão embarcar, embora alguns consigam entrar no barco “adoçando o mando do capitão, ou subtraindo-se à vigilância dos seus homens.”

A ação pode dividir-se em duas partes: a primeira – que narra a viagem, as condições de extrema pobreza dos passageiros bem como as esperanças que põem na migração – ocupa um terço da narrativa e introduz grande parte das personagens.

A segunda parte, que se inicia com o desembarque em São Vicente, expande a temática da fome, da miséria, do medo num contexto social mais amplo. Não poderá dizer-se que a ação se desenvolve em crescendo rumo a um clímax que deixe prever um desenlace. Nem há uma personagem principal à volta da qual decorre a narrativa.

Reconhecemos antes que cada personagem concorre, com a sua história triste e sombria, para a constatação de uma realidade amarga, árida, ocre, sufocante não só geograficamente mas também, e especialmente, em termos humanos, sociais e políticos.

De entre os passageiros, todos famintos e de uma magreza ávida, todos carregando os seus dramas, as suas debilidades, escolhemos aleatoriamente, Nhô Mocinho, 60 anos, com uma chaga exposta numa perna, homem de liceu, chegou a chefe de secção, que vem sem ter quem o acolha; Conchinha, grávida e famélica, durante a viagem tem a criança que morre ao nascer e é atirada ao mar, vindo ela própria a sucumbir à chegada ao cais e cujo corpo é levado pelo carro do lixo da administraç&

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