Opinião

Figueiró dos Vinhos e a sua gloriosa história

14 jun 2020 16:15

Leiria é um distrito heterogéneo e com acentuadas disparidades territoriais, sobretudo nas suas dinâmicas socioeconómicas entre os concelhos do Pinhal Litoral e do Pinhal Interior Norte.

Os territórios são como as pessoas – nascem, crescem e, consoante o determinismo natural e histórico ao qual estão sujeitos, bem como as opções que fazem, podem prosperar ou empobrecer em termos económicos.

Leiria é um distrito heterogéneo e com acentuadas disparidades territoriais, sobretudo nas suas dinâmicas socioeconómicas entre os concelhos do Pinhal Litoral e do Pinhal Interior Norte.

Segundo Augusto Mateus e Associados, a partir do Índice Sintético de Competitividade e Coesão Territorial, o Pinhal Interior Norte é considerado uma «região menos desenvolvida» num contexto comparativo com o todo nacional, é uma região deprimida.

Os cinco concelhos mais a nordeste do distrito (Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere e Ansião) têm menos população do que a cidade de Leiria (têm 33.690 habitantes).

No âmbito do distrito, esses cinco concelhos representam 20% do território e apenas 7% da população residente.

A sua densidade demográfica é de 48 hab./km2, enquanto que o distrito tem o triplo.

Segundo o INE (2019), o índice médio do pode de compra per capita desses cinco concelhos foi de 68% do todo nacional. Mas o que hoje se revela como o retrato de um país dicotómico entre o litoral e o interior, nem sempre foi assim.

Historicamente, a localização da actividade económica não se dá ao acaso.

Tudo o que tem intervenção humana decorre de um processo decisório racional.

Entre os séculos XV e XVII, o concelho de Figueiró dos Vinhos desempenhou um papel económico e polarizador nessa região setentrional do território, sobretudo, com as Reais Ferrarias da Foz de Alge e da Machuca.

A teoria económica, principalmente a partir de Alfred Marshall (1890), é clara sobre esse aspecto: a causa primeira da localização empresarial é o acesso aos recursos produtivos naturais.

Figueiró, para além da agricultura abundante, do uso da força hídrica aos moinhos, foi também um território rico na extracção e transformação de minérios para a produção de armas de fogo e munições, e desempenhou um protagonismo religioso e de nobreza, de casas senhoriais - os Vasconcelos - na sua área de influência mais propínqua.

Nesse período, em pleno século XVI, a cidade de Leiria, já com diocese própria (1545), estava em crescimento, mas a assimetria comparativa com a influência de Figueiró dos Vinhos a norte do território não era tão acentuada como agora.

Figueiró foi um centro nobre e deslocado a norte da Estremadura.

Figueiró foi uma referência regional.

Assim como as pessoas, os territórios têm uma história de vida, têm um capital social e histórico que deve ser preservado e, sobretudo, alavancado para o futuro.

Há um conhecimento empresarial tácito que existe a norte do distrito e é a partir daí que as regiões deprimidas se devem transformar, recuperando a sua gloriosa história.