Opinião
Leiria ainda não conhece o Michael Porter
Michael Porter escreveu um livro fundamental para a compreensão da importância dos territórios e da competitividade
Em termos de teoria científica da Gestão e da Economia, a câmara municipal de Leiria (CML), parece estar com 35 anos de atraso ou, então, desconhece por completo os trabalhos do professor e economista Michael Porter.
Em 1990, Michael Porter escreveu um livro fundamental para a compreensão da importância dos territórios e da competitividade – a obra A Vantagem Competitiva das Nações. Por que razão algumas empresas obtêm um forte posicionamento competitivo num determinado território onde estão localizadas? Há 35 anos, M. Porter desenvolveu o seu clássico modelo do diamante que assenta em quatro elementos estruturantes: 1) dotação de factores; 2) condições da procura; 3) estratégia, estrutura e rivalidade; e 4) indústrias relacionadas e de suporte.
Em 1), destacam-se as infraestruturas, a mão-de-obra qualificada e o conhecimento. Nos últimos 16 anos, a soma dos orçamentos municipais ascendeu a 1,2 mil milhões de euros. Pergunta-se: há alguma infraestrutura promovida pela CML que possa alavancar a competitividade empresarial no concelho? Em Leiria, a qualificação do trabalho e o conhecimento vêm, essencialmente, do IPL. O ecossistema de inovação e empreendedorismo é assegurado pela Stratup Leiria, onde a CML é associada. Pergunta-se: faz sentido a Startup estar repartida em três espaços físicos e não haver no concelho um Parque de Ciência e Tecnologia?
Em 3), de acordo com a base de dados DataCentro (CCDRC), a Região de Leiria tem um Índice Sintético de Desenvolvimento Regional abaixo das Regiões de Coimbra e Aveiro, indicando uma fraqueza em termos de políticas públicas que possam ser promotoras da competitividade regional.
Em 2), e de acordo com a DataCentro, o concelho de Leiria apresenta o maior poder de compra per capita (105,7 em 2021) na sua Comunidade Intermunicipal (CIMRL). Quando comparado com os concelhos de Aveiro e Coimbra, o poder de compra per capita situa-se 14 pontos percentuais abaixo. Os rendimentos e a sofisticação da procura em Leiria está a perder posição relativa, sobretudo, na comparação com Aveiro.
Em 4), destaca-se o modelo da tríplice hélice: Empresa/Academia/Governo. A CML, no âmbito do modelo de Porter, funciona como uma indústria de suporte. E a pergunta é: qual tem sido a contribuição do governo local? A CML poderia fazer diplomacia económica e criar condições (terrenos, licenciamentos céleres e redução de custos de contexto) de captação de investimento directo estrangeiro (IDE) no sentido de reforçar as aglomerações industriais existentes na região.
Há várias evidências de que a CML tem um completo desconhecimento, não só do modelo do diamante de Porter, como de qualquer modelo criador de competitividade territorial.