Editorial

Eles falam, falam...

14 ago 2025 08:01

O estado a que chegou o bairro da ex-Prisão Escola de Leiria ilustra com clareza o enorme fosso entre discurso e acção

Houve tempos em que, chegado o período de eleições, legislativas ou autárquicas, pelo menos três temas saltavam para os discursos inflamados dos candidatos na nossa região: a poluição do rio Lis pelos efluentes suinícolas, a requalificação da Linha do Oeste e a abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego aéreo civil.

E estamos a falar de tempos que se traduziram em décadas de muitas promessas e poucas acções. Basta verificar o que se passa em cada uma destas áreas, com excepção do caso dos resíduos das explorações pecuárias, que podem finalmente vir a encontrar um caminho de aproveitamento com as anunciadas unidades de produção de biometano.

Agora, os tempos são outros, assim como as necessidades e preocupações. E os temas, embora globais, são também muito locais. Os problemas com a mobilidade, a imigração e o acesso à habitação, já não são um exclusivo das grandes metrópoles, mas uma dor de cabeça igualmente para cidades de pequena ou média dimensão, como facilmente se pode constatar no mapa geográfico do distrito que habitamos.

E, numa região em que se celebra cada conquista de reabilitação urbana como se fosse um milagre, o estado a que chegou o bairro da ex-Prisão Escola de Leiria ilustra com clareza o enorme fosso entre discurso e acção, de que falávamos no início do texto. Das 58 casas que compõem este complexo habitacional, 42 estão devolutas e mais de 70% encontram-se degradadas, sem condições de habitabilidade.

Os diversos acordos, compromissos e manifestações de interesse, chegaram a criar a expectativa de que poderíamos estar perante um exemplo de repovoamento e inovação social. Falou-se da transferência de propriedade do Governo para o município, da possibilidade de recurso aos fundos do PRR, de planos para a reabilitação, da integração na Estratégia Local de Habitação, de arrendamento acessível e a preços controlados. Mas apenas se falou, porque na realidade, continua sem existir sequer um projecto de recuperação.