Opinião

Egoísmo

10 ago 2017 00:00

Há pessoas, demasiadas, para quem o Mundo se restringe aos seus umbigos e ao que à volta deles gira, nada se importando com o que acontece para lá dos interesses e do bem-estar próprios, mesmo que para os garantir tenham que espezinhar tudo e todos.

São verdadeiros cretinos, que nem perante a tragédia afrouxam no egoísmo e no “chico-espertismo”, continuando as suas sagas, quase sempre ligadas ao dinheiro e ao poder, como se nada se tivesse passado.

Será esse o caso de todos quantos se apressaram a plantar eucaliptos para se anteciparem à lei que proibirá novas plantações, sem respeitar o luto pelas dezenas de vidas que os incêndios levaram, nem sequer esperando que as cinzas dos milhares de hectares ardidos assentassem.

São pessoas que, certamente, têm uma máquina calculadora no lugar do coração e que, enquanto a maioria ainda se estava a refazer do choque e das emoções vividas, já faziam contas e planos para acautelar os seus interesses.

O dos outros, como é óbvio, não lhes interessa, mesmo que possam estar a contribuir para a propagação de incêndios futuros, que porão mais vidas, habitações e empresas em risco.

Como aliados, neste caso como noutros, têm a inércia do Estado e as “tricas” políticas, que geralmente fazem arrastar no tempo decisões que deveriam ser tomadas na hora, nem que para isso fosse necessário criar um regime excepcional.

Resta, assim, esperar que a outra parte da população, aquela que se rege por princípios cívicos e de humanismo, tenha força e capacidade de mobilização suficientes para exigir que publicação da referida lei seja antecipada e que, além da proibição de novas plantações, preveja também o corte de algumas das já existentes.Depois do que aconteceu, há coisas que não são toleráveis…

 

Segundo parece, o Santuário está preocupado por arrumadores de carros e pedintes andarem a incomodar os fiéis em Fátima, de tal forma que já pediu a intervenção da GNR, estando as duas instituições a “trabalhar em colaboração na regularização” da situação.

Pressupõe-se que essa “regularização” passará por afastar os ditos arrumadores e pedintes de Fátima, para locais onde incomodem outras pessoas que não os fiéis... ficando por saber se as pessoas a ‘enxotar’ não serão, elas próprias, também fiéis.

Mas mesmo que não o sejam, à luz da Igreja Católica, são no mínimo filhos de Deus e, como tal, merecedores dos melhores sentimentos e acções dos seus irmãos e, principalmente, dos representantes de Deus na Terra.

É estranho, pois, que a preocupação maior do Santuário não seja para com os que são obrigados a pedir e a arrumar carros para viver, e que não se empenhe, em colaboração, ou não, com outras instituições para estudar o problema e ajudar a resolvê-lo, não se ficando por o afastar para longe.

*Director do Jornal de Leiria