Opinião

E se todos pudéssemos trabalhar naquilo que gostamos

1 jul 2022 15:45

A economia global transformou as pessoas em números

Recentemente a revista Forbes publicou um artigo onde apresenta “10 razões pelas quais as pessoas de sucesso trocam de emprego frequentemente”.

As justificações vão desde a melhoria das competências para corresponder numa entrevista de trabalho até ao facto de parte do nosso cérebro estagnar se todos os dias fizermos as mesmas ações repetidamente.

No mesmo artigo a revista apenas analisa o lugar do empregado e as vantagens que resultam da troca de emprego e nunca aborda qual o lugar do empregador nesta dinâmica de entra e sai das empresas.

O brasileiro Walter Orthmann, que completou este ano 100 anos de idade, é detentor do Recorde do Guiness como o trabalhador há mais tempo empregado na mesma empresa.

No dia 6 de janeiro de 2022, Walter cumpriu 84 anos e 9 dias de trabalho numa fábrica de têxteis brasileira.

Ao longo das mais de oito décadas na empresa, Walter foi promovido várias vezes, chegando a diretor de vendas.

Quando lhe perguntam qual a receita para atingir esta meta, o homem centenário refere que o mais importante numa carreira de sucesso resulta de dois fatores fundamentais: “encontrar um bom empregador” e a enorme importância de “fazer o que se gosta” para não se sentir o tempo a passar.

Walter Orthman destaca duas razões que a revista Forbes se esqueceu de analisar, acabando por mostrar que se alguns fatores estiverem solidamente representados a longevidade nos novos empregos poderá ser uma realidade.

A economia global transformou as pessoas em números e colocou de parte o fator humano como ferramenta fundamental de sucesso.

Muitos dos patrões de hoje em dia olham para os seus funcionários como um acessório descartável que pode ser substituído num abrir e fechar de olhos.

Desta forma esquecem-se de investir nas pessoas e naquilo que as fará felizes no seu trabalho e nas suas vidas em geral.

Não envolvem os seus trabalhadores na construção do crescimento das suas empresas e com isso criam uma barreira no compromisso de todas as partes.

Quando ouvimos falar dos lucros astronómicos de algumas empresas não vemos esses mesmos lucros refletidos nas remunerações dos seus trabalhadores que continuam estagnados durante largos anos sem qualquer incentivo e motivação.

Por outro lado, a sociedade em geral canaliza e estrangula (com a escola à cabeça) os seus jovens adultos para seguirem o caminho dos empregos com maiores remunerações e não aqueles onde as pessoas se sintam realizadas profissionalmente e pessoalmente.

Assim estamos a criar, logo “à nascença”, pessoas que irão estar infelizes nos seus trabalhos, sem qualquer tipo de vontade para fazer mais e melhor e sem um objetivo comum entre empregado e empregador.

De certa forma estamos a tornar difícil aquilo que deveria ser fácil.

A sociedade deveria criar condições para que as pessoas estivessem comprometidas com a sua missão e que todos os dias acordassem felizes por poder contar com mais um dia no seu local de trabalho.

Acredito que se assim fosse a história de Walter Orthmann seria menos incomum e que existiria alguma revista que se lembrasse de escrever um artigo sobre “as 10 razões para as pessoas se manterem felizes e motivadas no seu local trabalho”.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990