Opinião

Discos “velhos” e “novos"

19 jan 2023 16:37

Os discos editados na segunda quinzena de dezembro estão raramente incluídos nas “famosas” listas de “melhores do ano” que todos gostamos de fazer

No mundo da música, em particular, acontece um fenómeno muito injusto para as bandas e artistas que editam os seus álbuns a partir da segunda quinzena de novembro. É que esses “envelhecem” precocemente. Um disco editado no dia 15 de novembro só é novo durante mês e meio. Um disco editado no dia 15 de dezembro, passadas duas semanas já é um disco do ano passado, portanto “velho”.

Isto é estúpido, claro, mas psicologicamente é assim que funciona em muitas cabeças. Como se o tempo não fosse um momento permanente de portas abertas à continuidade. Desta necessidade de fecharmos ciclos e abrirmos outros é interessante verificar que, por exemplo, um disco lançado em janeiro é “atual” durante quase 12 meses.

Mas quando chegamos a dia 1 de janeiro do ano seguinte, o disco lançado em dezembro do ano anterior é tão “velho” como o que foi lançado em janeiro, mesmo que tenha sido editado no último dia do ano, portanto, há um dia... Os discos editados na segunda quinzena de dezembro estão raramente incluídos nas “famosas” listas de “melhores do ano” que todos gostamos de fazer. E nós sabemos como elas são importantes na repercussão da venda dos discos que nelas constam, sobretudo as publicadas por revistas e sites de referência.

Para sermos justos, a publicação dessas listas só deveria acontecer no primeiro trimestre do ano. Por exemplo, publicações de referência como a Pitchfork, The Quietus, The Wire, Uncut ou Les Inrockuptibles, só deveriam publicar a suas listas de melhores discos de 2022 em fevereiro de 2023. Desse modo incluiriam, certamente, muitos discos editados apartir de 15 de novembro que, por questões editoriais, acabam por ficar de fora dessas mesmas listas, e, pior, das críticas que essas mesmas publicações deveriam fazer.

Felizmente, nunca deixei de comprar e/ou referir um bom álbum porque já foi editado há anos. Quando me chega às mãos um disco novo de um qualquer ano que não este, nunca é velho. Só se torna “velho” no sentido de “velho amigo”, ao fim de uns anos de audições e de companhia no escaparate.

Alguns dos discos mais “velhos” que tenho continuam com uma linguagem musical intemporal e nada anacrónica. Continuam a soar a novo, independentemente da idade que têm. Isso é o que conta. O resto é um número.