Opinião
Comunidades
A comunidade foi, e continua a ser, o maior recurso de resiliência
Estou há uma semana nos Estados Unidos da América, casa do “sonho americano”. Sonho este que hoje se traduz, muitas vezes, em capitalismo e individualismo. Estou num evento de blockchain, um setor que conheço pouco, mas que me tem feito refletir. É uma área onde muitos profissionais podem facilmente trabalhar sozinhos, a partir de casa ou de qualquer parte do mundo, sem grandes interações sociais.
Para alguns, isso até é o sonho. No entanto, é curioso constatar que, mesmo neste meio, se organizam cada vez mais encontros que juntam programadores, investidores e empreendedores durante várias semanas, em workshops, momentos de networking e convívios sociais. A verdade é que, mesmo em setores onde a autonomia e o isolamento parecem regra, a necessidade de comunidade continua a existir e a revelar-se essencial para o progresso. Este conceito, de comunidade, tem-me acompanhado nos últimos anos.
Desde 2020, comecei a dedicar-me mais ao tema da sustentabilidade. Muitas vezes senti esse percurso solitário. Eu fazia esforços para reduzir o meu impacto, mas parecia que o mundo seguia na direção contrária. A solidão da “luta ambientalista individual” é real e, muitas vezes, desmotivadora.
A mudança surgiu quando comecei a envolver-me no associativismo. Ao entrar em organizações e projetos coletivos, descobri que não estava sozinha. Percebi que uma ideia ganha força quando é partilhada, que um problema é mais leve quando é discutido em grupo, e que a motivação se multiplica quando sabemos que não estamos a caminhar sozinhos.
Hoje, cada evento em que participo, cada projeto colaborativo e cada rede de jovens com quem me cruzo renova a minha esperança e a minha energia para continuar. Na verdade, é isto que a história nos mostra em momentos de crise: sem comunidade, não sobrevivemos. Basta olhar para um exemplo recente e próximo, os incêndios que têm atingido o nosso país.
Sem a ação solidária de vizinhos e cidadãos, que se organizaram para proteger vidas, terrenos, casas e animais, as perdas teriam sido ainda mais devastadoras. A comunidade foi, e continua a ser, o maior recurso de resiliência. Por isso, quanto mais a sociedade e os media promovem uma cultura individualista, mais acredito que precisamos de apostar no coletivo.
Conhecer os nossos vizinhos, dedicar tempo aos amigos, participar em associações locais, envolver-nos em projetos comunitários ou assembleias de cidadãos. Precisamos de mais sinergias, mais partilha, mais participação ativa.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990