Opinião

Cinema | Aqui há gato

24 out 2025 08:03

Do melhor cinema que Hollywood pode oferecer, com a assinatura artística inconfundível de Darren Aronofsky

Darren Aronofsky é, aos 56 anos de idade, um dos mais audazes e corajosos realizadores dessa liga milionária do cinema a que chamam Hollywood. Ao contrário de vários dos seus “colegas” de profissão (especialmente os que se movimentam nos mesmos abastados meandros da indústria) Aronofsky continua a correr riscos e a reinventar-se de filme para filme, sem nunca abdicar de uma linguagem, de uma voz e de uma capacidade narrativa muito próprias. Como admirador de Aronofsky, não me escuso, no entanto, a deixar a nota que nem todos trabalhos do realizador me encheram as medidas. The Fountain (2006), por exemplo – ainda por cima a adaptação de uma lindíssima e brilhante graphic novel – foi, no meu entender, uma desilusão. Mother! (2017) e Noah (2014) pouco mais que projetos pouco conseguidos, cujas fragilidades a produção não conseguiu mitigar.

2025 vê Aronofsky regressar, em grande forma, às salas de cinema, desta vez para apresentar uma deliciosa e bem dirigida comédia negra: Apanhado a Roubar (Caught Stealing, 2025). Apoiado num intrincado argumento, cheio de plot twistes e uma cadência frenética, onde tudo o que poderia correria correr mal… corre pior, a energia de Apanhado a Roubar faz(-me) recordar aquela de Lock, Stock and Two Smoking Barrels (a mirabolante aventura realizada por Guy Rirtchie, em 1998) embora numa toada bastante mais negra e ajustada à veia surrealista e depressiva de Aronofsky.

Em Apanhado a Roubar, “viajamos” até à Nova Iorque dos anos 1990, onde encontramos Hank Thompson (Austin Butler), uma antiga promessa do basebol do liceu que, após um acidente, se vê impedido de continuar a jogar. A vida aparentemente tranquila que leva, trabalhando como barman e gerindo uma relação fogosa com Yvonne (Zoë Kravitz) é subitamente abalada quando Russ (Matt Smith), o seu vizinho punk, se tem de ausentar e lhe pede que tome conta de Bud, o gato, por alguns dias. Subitamente a rotina de Hank sofre um forte revés e entre gangsters russos, judeus ultra-ortodoxos assassinos e polícias corruptos, a vida de Hank torna-se subitamente um jogo de sobrevivência

São 110 minutos alucinantes, repletos de peripécias, ação, drama e comédia, do melhor cinema que Hollywood pode oferecer, com a assinatura artística inconfundível de Darren Aronofsky. Não é um filme incontornável (bom, talvez um bocadinho para os fãs como eu) mas é bom entretenimento de qualidade.