Opinião

Cinco anos

16 mai 2017 00:00

Publiquei a primeira crónica no JL há cinco anos, em Maio de 2012. Assinalo a data recuperando um texto de 2014 sobre infinitos e janelas. Um texto de que ainda gosto.

Aminha filha lê-me uma citação que decidiu usar num pequeno desenho que fez para colar na capa de um dos seus cadernos. É algo sobre haver infinitos que são maiores do que outros. Digo-lhe que a frase é bonita mas não faz grande sentido.

Ela responde que faz; e dá um exemplo, para que eu perceba o seu ponto de vista: «Pensa no zero e pensa no um; entre ambos, existe um infinito de números, zero vírgula qualquer coisa até ao infinito.

Agora pensa no zero e pensa no dois; entre ambos, existe um outro infinito de números, zero vírgula qualquer coisa até ao infinito e um vírgula qualquer coisa até ao infinito. Portanto, estes dois infinitos são diferentes e o segundo é maior do que o primeiro.»

Aceno com a cabeça e digo: tens razão. Ela sorri, diz yes e vai à sua vida. A matemática sempre me baralhou, portanto não há nada melhor do que um argumento matemático para me calar; e o exemplo nem é dela, penso que está mencionado no próprio livro que contém a citação, mas é desarmante.

Contudo, o que me interessa não é tanto deslumbrar-me com os infinitos matemáticos mas perceber a naturalidade com que uma miúda de catorze anos me faz pensar e me ensina algo, a simplicidade com que me faz ir além do óbvio e do imediato.

Claro que os filhos nos ensinam imensas coisas, na verdade ensinam-nos o mais importante de tudo: a amar infinitamente (e talvez seja esse o maior de todos os infinitos).

Mas não só. Ensinam-nos, por exemplo, a olhar para a realidade de outro modo ou a sorrir de nós próprios ou a perceber as nossas limitações.

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*Escritor