Editorial

A tocar é que eles se entendem

6 nov 2025 08:00

Um sinal claro de que só se cria futuro onde se cultiva raiz

Na aldeia da Barrenta, uma pequena povoação do concelho de Porto de Mós com pouco mais de 30 moradores, floresceu um dos projetos de preservação cultural que merece, por mérito próprio, ser apoiado, incentivado e enaltecido.

Ali, num vale contornado pela serra, a concertina tornou-se mais do que instrumento; transformou-se em símbolo e, passo a passo, numa marca com ressonância em vários pontos do País.

O que começou como um encontro anual, depressa desabrochou em escola viva, onde a tradição junta miúdos e graúdos, cruzando gerações dos oito aos oitenta anos, oriundas de diversas geografias, algumas delas a dezenas de quilómetros de distância.

A paixão e entusiasmo por poder ensaiar e continuar a aprender, fazem esquecer os quilómetros vencidos, semana a semana.

A força motriz da Escola de Concertinas da Barrenta é facilmente perceptível nas pequenas histórias que se contam na sala de ensaios: o rapaz que mal chega com os pés ao chão, mas já é capaz de arrancar melodias à sua concertina; o septuagenário que desafia a estrada e o tempo para se sentir vivo no convívio e na aprendizagem.

Este projecto, que pode parecer pequeno no mapa dos grandes eventos, mas exemplar na escala das tradições, criou uma marca identitária que ultrapassa a geografia regional e as estatísticas dos territórios desertificados.

Esta iniciativa, tornou a Barrenta uma referência nacional, ao atrair multidões para um evento anual, criar uma escola e promover laços de afectividade intergeracional.

Em suma, o que nasceu da vontade de um dirigente em criar algo de positivo e diferenciador numa pequena aldeia serrana, transformou-se numa marca cultural e num sinal claro de que só se cria futuro onde se cultiva raiz.

Que venham mais Barrentas – criativas, resistentes e persistentes – que a tradição merece e a região agradece.